Porque o essencial, o que realmente importa, está nas coisas mais simples. pormenoridades@gmail.com
sexta-feira, abril 06, 2007
quinta-feira, abril 05, 2007
Meu Pé de Laranja Lima
Foi uma das últimas compras que fiz, antes de sair da Almedina.
Só posso dizer que valeu a pena!
“A gente vinha de mãos dadas, sem pressa de nada pela rua.”
“Até agora aquela música me dava uma tristeza que eu não sabia compreender.”
“Será que ele não sabia que se podia cantar para dentro? Fiquei calado. Se não sabia eu não ensinava.”
“Também não tinha vontade de cantar. Meu passarinho que cantava p’ra dentro voou p’ra longe.”
“Eu era doido por histórias. Quanto mais difíceis, mais eu gostava.”
“Mamãe nasceu trabalhando.”
“Quando eu escutei essa história dela fiquei tão triste que prometi que quando fosse poeta e sábio eu ia ler minhas poesias para ela...”
“Não sobrara nada para mim.”
“Sempre eu tinha que ser o último.”
“Emburrei. Sentei no chão e encostei a minha zanga no pé de Laranja Lima.”
“Meu peito explodiu numa mágoa enorme.”
“- Não espero nada. Assim a gente não fica desapontado.”
“Foi uma ceia tão triste que nem dava vontade de pensar.”
“Foi por isso que eu o abracei.”
“Garanto que ela estava chorando escondido. E todos estavam com vontade de fazer o mesmo.”
“(...) tinha os olhos vermelhos como se tivesse chorado doído.”
“- (...) Vamos dormir. O sono faz a gente esquecer tudo.”
“Uma mistura de tudo criou-se na minha alma. Era ódio, revolta e tristeza.”
“Havia uma mágoa dolorida tão forte nos seus olhos que se ele quisesse chorar não ia poder.”
“Minha dor era muito maior que qualquer fome.”
“E foi me dando uma coisa. (...) E senti que estava estourando. Rebentando todo por dentro. Rebentando aquela dor tão grande que passara o dia ameaçando.
(...)
Só pude falar.
(...)
E a voz foi sendo consumida pelas lágrimas e soluços.”
“Suspendi as minhas mãos e alisei o seu rosto. Passei os dedos de leve sobre os seus olhos tentando colocá-los no lugar, sem aquela tela grande. Tinha medo que se não o fizesse, aqueles olhos iriam me seguir a vida inteira.”
“(...) boca com gosto salgado. O resto do meu choro que custava a passar.”
“Havia uma alegria na família que não se via há muito tempo.”
“Fiquei no escuro engolindo o resto do choro e achando que a cama era a coisa melhor para sarar uma surra.”
“E vieram as novidades. As brigas. As descobertas de um mundo onde tudo era novo.”
“Os dias de verão demoravam a carregar a noite.”
“o vulto de Mamãe apareceu na esquina. Era ela. Ninguém no mundo se parecia com ela.”
“- Sim. Mas isso não é direito. Você não deve fazer mais isso. Isso não é um roubo, mas já é um ‘furtinho’.
- Não é não, D. Cecília. O mundo não é de Deus? Tudo que tem no mundo não é de Deus? Então as flores são de Deus também...
Ela ficou espantada com a minha lógica.
- Só assim que eu podia, professora. Lá em casa não tem jardim. Flor custa dinheiro... e eu não queria que a mesa da senhora ficasse sempre de copo vazio.
Ela engoliu em seco.
(...)
- Nunca esse copo vai ficar vazio. Quando eu olhar para ele vou sempre enxergar a flor mais linda do mundo. E vou pensar: quem me deu essa flor foi o meu melhor aluno. Está bem?”
“A humilhação doía mais que a própria dor.”
“Dali do alto eu me sentia maior que o mundo.”
“- Eu nunca mais quero sair de perto de você, sabe?
- Por quê?
- Porque você é a melhor pessoa do mundo. Ninguém judia de mim quando estou perto de você e sinto um ‘sol de felicidade dentro do meu coração’.”
“E completamente desamparados, começamos a chorar juntos e baixinho...”
“Fazia falta ao meu ouvido, à ternura do meu ouvido aquele jeito de falar meio carregado e cheio de ‘tu’.”
“Eu não sabia se devia parar ou se tinha de obedecer... Mas na minha dor tinha resolvido uma coisa. Seria a última surra que eu levaria, seria a última mesmo que morresse para isso.”
“Eu doía todo a cada movimento. Depois eu soube que queriam chamar o médico, mas não ficava bem.
(...) Mal podia respirar, quanto mais engolir. Ficava numa sonolência danada e quando acordava a dor ia diminuindo.”
“Uma semana foi preciso para que eu me recuperasse todo. Não provinha das dores nem das pancadas o meu desânimo. Verdade que em casa começaram a me tratar bem que dava para desconfiar. Mas faltava qualquer coisa. Qualquer coisa importante que me fizesse voltar a ser o mesmo, talvez a acreditar nas pessoas, na bondade delas.”
“A realidade era que não conseguia deixar de esticar a minha dor de dentro.”
“Nasceu o primeiro raio de sol de alegria. Meu coração se adiantou na frente cavalgando a minha saudade. Ia ver o meu amigo mesmo.”
“Todo mundo que viajava era feliz.”
“Apoiei a cabeça sobre os braços e fiquei assim, me sentindo amolecido e triste.”
“A pobreza lá em casa era tanta que a gente desde cedo aprendia a não gastar qualquer coisa. Tudo custava muito dinheiro. Era caro.”
“Estávamos rindo e a tragédia se afastara toda.”
“Aquilo era a coisa mais bonita do mundo. Pena que eu não pudesse contar p’ra ela que vira a poesia viver.”
“- (...) Não é isso. A vida a gente não resolve assim de uma só manobra.”
“Fiz uma coisa que raramente fazia ou gostava de fazer com os meus familiares. Beijei o seu rosto gordo e bondoso...”
“Agora que descobrira mesmo o que era ternura, em tudo que eu gostava colava ternura.”
“Comecei a suar frio e meus olhos ameaçavam ficar escuros.
(...)
Fui me levantando sem sentir.
(...)
Mas eu não podia responder. Meus olhos começavam a se encher de lágrimas. (...) Só queria correr, correr e chegar lá.
(...)
As lágrimas molhavam o meu rosto.”
“Fiz que não com a cabeça e saí andando devagarzinho, completamente desorientado. Sabia de toda a verdade. (...) Vomitei mais umas duas vezes e pude ver que ninguém se incomodava comigo. Que não havia mais ninguém na vida. Não voltei para a Escola, fui seguindo o que o coração mandava. De vez em quando fungava e enxugava o rosto na blusa do uniforme.”
“Surgiu um desabafo grande que eu nem esperava.”
“Durante três dias e três noites, fiquei sem querer nada. Só a febre me devorando e o vômito que me atacava quando tentavam me dar coisa para comer ou beber. Ia definhando, definhando. Ficava de olhos espiando a parede sem me mexer horas e horas.
Ouvia o que falavam a meu redor. Entendia tudo, mas não queria responder. Não queria falar. Só pensava em ir para o céu.”
“A casa foi-se vestindo de silêncio como se a morte tivesse passos de seda. Não faziam barulho. Todo mundo falava baixo. Mamãe ficava quase toda a noite perto de mim. E eu não me esquecia dele. Das suas risadas. Da sua fala diferente. (...) Não podia deixar de pensar nele. Agora sabia mesmo o que era a dor. Dor não era apanhar de desmaiar. Não era cortar o pé com caco de vidro e levar pontos na farmácia. Dor era aquilo, que doía o coração todinho, que a gente tinha que morrer com ela, sem poder contar para ninguém o segredo. Dor que dava desânimo nos braços, na cabeça, até na vontade de virar a cabeça no travesseiro.
E a coisa piorava.”
“Foi então que aconteceu uma coisa linda. A rua se movimentou para me visitar. Esqueceram que eu era o diabo em figura de gente.”
“Comecei a melhorar. Já conseguia engolir alguma coisa e sustentar no estômago. A febre só aumentava e os vômitos voltavam trazendo os tremores e o suor frio, quando eu me lembrava mais. (...) Pedia ao Menino Deus, se é que ele se importava alguma vez comigo, para que ele não tivesse sentido nada.”
“Como era fácil para uns morrer. Era só vir um trem malvado e pronto. E como era difícil para mim ir para o céu. Todo mundo estava segurando minhas pernas para eu não ir.”
“A fraqueza ia me dando uma sonolência contínua. Não sabia mais quando era dia ou noite.”
“A luz entrou e via-se uma nesga de céu lindo. Olhei o céu e de novo comecei a chorar.
(...)
Ela não entendia o que o céu significava para mim.”
“As coisas começaram a pegar um ritmo normal na casa. Já se ouvia barulho por todas as partes.”
“Mas poucos dias depois acabou. Estava condenado a viver, viver. Numa manhã, Glória entrou radiante. Eu estava sentado na cama e olhava a vida com uma tristeza de doer.”
“Era difícil recomeçar tudo sem acreditar nas coisas. A vontade era contar o que de fato existia.”
“Fez uma pausa. Ele também nunca mais ia esquecer daquilo para o resto da vida.
(...)
E Papai falava e falava sempre.
(...)
Fui escorregando pelos seus joelhos e caminhei para a porta da cozinha. Sentei-me nos degraus e contemplei o quintal com o morrer de todas as luzes. Meu coração se revoltara sem raiva. ‘Que quer esse homem que me pega no colo?’ Ele não é meu pai. Meu pai morreu. O Mangaratiba matou ele.
Papai tinha me seguido e viu que os meus olhos se encontravam de novo molhados.
(...)
Ele não entendia. Ele não entendia. (...)
Olhei os seus pés, os dedos saindo dos tamancos. Ele era uma velha árvore de raízes escuras. Era um pai-árvore. Mas uma árvore que eu quase não conhecia.
(...)
Agarrei-me soluçando aos seus joelhos.
- Não adianta, Papai. Não adianta...
E olhando o seu rosto que também se encontrava cheio de lágrimas murmurei como um morto:
- Já cortaram, Papai, faz mais de uma semana que cortaram o meu pé de Laranja Lima.”
“Hoje tenho quarenta e oito anos e às vezes na minha saudade eu tenho impressão que continuo criança. (...) Foi você, quem me ensinou a ternura da vida, meu Portuga querido. (...) Às vezes sou feliz na minha ternura, às vezes me engano, o que é mais comum.
Naquele tempo. No tempo de nosso tempo, eu não sabia que muitos anos antes, um Príncipe Idiota ajoelhado diante de um altar perguntava aos ícones, com os olhos cheios d’água:
‘POR QUE CONTAM COISAS ÀS CRIANCINHAS?’
A verdade (...) é que a mim contaram as coisas muito cedo.”
José Mauro de Vasconcelos
Só posso dizer que valeu a pena!
“A gente vinha de mãos dadas, sem pressa de nada pela rua.”
“Até agora aquela música me dava uma tristeza que eu não sabia compreender.”
“Será que ele não sabia que se podia cantar para dentro? Fiquei calado. Se não sabia eu não ensinava.”
“Também não tinha vontade de cantar. Meu passarinho que cantava p’ra dentro voou p’ra longe.”
“Eu era doido por histórias. Quanto mais difíceis, mais eu gostava.”
“Mamãe nasceu trabalhando.”
“Quando eu escutei essa história dela fiquei tão triste que prometi que quando fosse poeta e sábio eu ia ler minhas poesias para ela...”
“Não sobrara nada para mim.”
“Sempre eu tinha que ser o último.”
“Emburrei. Sentei no chão e encostei a minha zanga no pé de Laranja Lima.”
“Meu peito explodiu numa mágoa enorme.”
“- Não espero nada. Assim a gente não fica desapontado.”
“Foi uma ceia tão triste que nem dava vontade de pensar.”
“Foi por isso que eu o abracei.”
“Garanto que ela estava chorando escondido. E todos estavam com vontade de fazer o mesmo.”
“(...) tinha os olhos vermelhos como se tivesse chorado doído.”
“- (...) Vamos dormir. O sono faz a gente esquecer tudo.”
“Uma mistura de tudo criou-se na minha alma. Era ódio, revolta e tristeza.”
“Havia uma mágoa dolorida tão forte nos seus olhos que se ele quisesse chorar não ia poder.”
“Minha dor era muito maior que qualquer fome.”
“E foi me dando uma coisa. (...) E senti que estava estourando. Rebentando todo por dentro. Rebentando aquela dor tão grande que passara o dia ameaçando.
(...)
Só pude falar.
(...)
E a voz foi sendo consumida pelas lágrimas e soluços.”
“Suspendi as minhas mãos e alisei o seu rosto. Passei os dedos de leve sobre os seus olhos tentando colocá-los no lugar, sem aquela tela grande. Tinha medo que se não o fizesse, aqueles olhos iriam me seguir a vida inteira.”
“(...) boca com gosto salgado. O resto do meu choro que custava a passar.”
“Havia uma alegria na família que não se via há muito tempo.”
“Fiquei no escuro engolindo o resto do choro e achando que a cama era a coisa melhor para sarar uma surra.”
“E vieram as novidades. As brigas. As descobertas de um mundo onde tudo era novo.”
“Os dias de verão demoravam a carregar a noite.”
“o vulto de Mamãe apareceu na esquina. Era ela. Ninguém no mundo se parecia com ela.”
“- Sim. Mas isso não é direito. Você não deve fazer mais isso. Isso não é um roubo, mas já é um ‘furtinho’.
- Não é não, D. Cecília. O mundo não é de Deus? Tudo que tem no mundo não é de Deus? Então as flores são de Deus também...
Ela ficou espantada com a minha lógica.
- Só assim que eu podia, professora. Lá em casa não tem jardim. Flor custa dinheiro... e eu não queria que a mesa da senhora ficasse sempre de copo vazio.
Ela engoliu em seco.
(...)
- Nunca esse copo vai ficar vazio. Quando eu olhar para ele vou sempre enxergar a flor mais linda do mundo. E vou pensar: quem me deu essa flor foi o meu melhor aluno. Está bem?”
“A humilhação doía mais que a própria dor.”
“Dali do alto eu me sentia maior que o mundo.”
“- Eu nunca mais quero sair de perto de você, sabe?
- Por quê?
- Porque você é a melhor pessoa do mundo. Ninguém judia de mim quando estou perto de você e sinto um ‘sol de felicidade dentro do meu coração’.”
“E completamente desamparados, começamos a chorar juntos e baixinho...”
“Fazia falta ao meu ouvido, à ternura do meu ouvido aquele jeito de falar meio carregado e cheio de ‘tu’.”
“Eu não sabia se devia parar ou se tinha de obedecer... Mas na minha dor tinha resolvido uma coisa. Seria a última surra que eu levaria, seria a última mesmo que morresse para isso.”
“Eu doía todo a cada movimento. Depois eu soube que queriam chamar o médico, mas não ficava bem.
(...) Mal podia respirar, quanto mais engolir. Ficava numa sonolência danada e quando acordava a dor ia diminuindo.”
“Uma semana foi preciso para que eu me recuperasse todo. Não provinha das dores nem das pancadas o meu desânimo. Verdade que em casa começaram a me tratar bem que dava para desconfiar. Mas faltava qualquer coisa. Qualquer coisa importante que me fizesse voltar a ser o mesmo, talvez a acreditar nas pessoas, na bondade delas.”
“A realidade era que não conseguia deixar de esticar a minha dor de dentro.”
“Nasceu o primeiro raio de sol de alegria. Meu coração se adiantou na frente cavalgando a minha saudade. Ia ver o meu amigo mesmo.”
“Todo mundo que viajava era feliz.”
“Apoiei a cabeça sobre os braços e fiquei assim, me sentindo amolecido e triste.”
“A pobreza lá em casa era tanta que a gente desde cedo aprendia a não gastar qualquer coisa. Tudo custava muito dinheiro. Era caro.”
“Estávamos rindo e a tragédia se afastara toda.”
“Aquilo era a coisa mais bonita do mundo. Pena que eu não pudesse contar p’ra ela que vira a poesia viver.”
“- (...) Não é isso. A vida a gente não resolve assim de uma só manobra.”
“Fiz uma coisa que raramente fazia ou gostava de fazer com os meus familiares. Beijei o seu rosto gordo e bondoso...”
“Agora que descobrira mesmo o que era ternura, em tudo que eu gostava colava ternura.”
“Comecei a suar frio e meus olhos ameaçavam ficar escuros.
(...)
Fui me levantando sem sentir.
(...)
Mas eu não podia responder. Meus olhos começavam a se encher de lágrimas. (...) Só queria correr, correr e chegar lá.
(...)
As lágrimas molhavam o meu rosto.”
“Fiz que não com a cabeça e saí andando devagarzinho, completamente desorientado. Sabia de toda a verdade. (...) Vomitei mais umas duas vezes e pude ver que ninguém se incomodava comigo. Que não havia mais ninguém na vida. Não voltei para a Escola, fui seguindo o que o coração mandava. De vez em quando fungava e enxugava o rosto na blusa do uniforme.”
“Surgiu um desabafo grande que eu nem esperava.”
“Durante três dias e três noites, fiquei sem querer nada. Só a febre me devorando e o vômito que me atacava quando tentavam me dar coisa para comer ou beber. Ia definhando, definhando. Ficava de olhos espiando a parede sem me mexer horas e horas.
Ouvia o que falavam a meu redor. Entendia tudo, mas não queria responder. Não queria falar. Só pensava em ir para o céu.”
“A casa foi-se vestindo de silêncio como se a morte tivesse passos de seda. Não faziam barulho. Todo mundo falava baixo. Mamãe ficava quase toda a noite perto de mim. E eu não me esquecia dele. Das suas risadas. Da sua fala diferente. (...) Não podia deixar de pensar nele. Agora sabia mesmo o que era a dor. Dor não era apanhar de desmaiar. Não era cortar o pé com caco de vidro e levar pontos na farmácia. Dor era aquilo, que doía o coração todinho, que a gente tinha que morrer com ela, sem poder contar para ninguém o segredo. Dor que dava desânimo nos braços, na cabeça, até na vontade de virar a cabeça no travesseiro.
E a coisa piorava.”
“Foi então que aconteceu uma coisa linda. A rua se movimentou para me visitar. Esqueceram que eu era o diabo em figura de gente.”
“Comecei a melhorar. Já conseguia engolir alguma coisa e sustentar no estômago. A febre só aumentava e os vômitos voltavam trazendo os tremores e o suor frio, quando eu me lembrava mais. (...) Pedia ao Menino Deus, se é que ele se importava alguma vez comigo, para que ele não tivesse sentido nada.”
“Como era fácil para uns morrer. Era só vir um trem malvado e pronto. E como era difícil para mim ir para o céu. Todo mundo estava segurando minhas pernas para eu não ir.”
“A fraqueza ia me dando uma sonolência contínua. Não sabia mais quando era dia ou noite.”
“A luz entrou e via-se uma nesga de céu lindo. Olhei o céu e de novo comecei a chorar.
(...)
Ela não entendia o que o céu significava para mim.”
“As coisas começaram a pegar um ritmo normal na casa. Já se ouvia barulho por todas as partes.”
“Mas poucos dias depois acabou. Estava condenado a viver, viver. Numa manhã, Glória entrou radiante. Eu estava sentado na cama e olhava a vida com uma tristeza de doer.”
“Era difícil recomeçar tudo sem acreditar nas coisas. A vontade era contar o que de fato existia.”
“Fez uma pausa. Ele também nunca mais ia esquecer daquilo para o resto da vida.
(...)
E Papai falava e falava sempre.
(...)
Fui escorregando pelos seus joelhos e caminhei para a porta da cozinha. Sentei-me nos degraus e contemplei o quintal com o morrer de todas as luzes. Meu coração se revoltara sem raiva. ‘Que quer esse homem que me pega no colo?’ Ele não é meu pai. Meu pai morreu. O Mangaratiba matou ele.
Papai tinha me seguido e viu que os meus olhos se encontravam de novo molhados.
(...)
Ele não entendia. Ele não entendia. (...)
Olhei os seus pés, os dedos saindo dos tamancos. Ele era uma velha árvore de raízes escuras. Era um pai-árvore. Mas uma árvore que eu quase não conhecia.
(...)
Agarrei-me soluçando aos seus joelhos.
- Não adianta, Papai. Não adianta...
E olhando o seu rosto que também se encontrava cheio de lágrimas murmurei como um morto:
- Já cortaram, Papai, faz mais de uma semana que cortaram o meu pé de Laranja Lima.”
“Hoje tenho quarenta e oito anos e às vezes na minha saudade eu tenho impressão que continuo criança. (...) Foi você, quem me ensinou a ternura da vida, meu Portuga querido. (...) Às vezes sou feliz na minha ternura, às vezes me engano, o que é mais comum.
Naquele tempo. No tempo de nosso tempo, eu não sabia que muitos anos antes, um Príncipe Idiota ajoelhado diante de um altar perguntava aos ícones, com os olhos cheios d’água:
‘POR QUE CONTAM COISAS ÀS CRIANCINHAS?’
A verdade (...) é que a mim contaram as coisas muito cedo.”
José Mauro de Vasconcelos
quarta-feira, abril 04, 2007
Compras
Cheguei há pouco da Fnac.
Já andava para comprar alguns CD's assim de seguida, pronto, foi hoje.
Que bem que sabe!
O da imagem é fabuloso. Músicas muito boas, mesmo.
Sim, sei que sou suspeita por serem os meus meninos...
Também trouxe o último da Mariah Carey, que ainda não tinha.
Os dois álbuns do Justin Timberlake, o "Live Tour" do FF e o novo dos Da Weasel.
Ficaram tantos por trazer...
E livros?
Nem se fala...
Era um ordenado só p'ra isso e não chegava!
Quanto à banda sonora da telenovela Vingança, é realmente espectacular.
Não são originais dos Anjos (excepto uma), mas encaixam-lhes na perfeição!
"Porquê (Nunca mas)
Nunca, nunca mais chega a noite
Em que te vou despertar
Nunca mais vou poder esperar
E então ver-te sorrir
Nunca mais este amor eterno
Poderá me tornar
No calor do teu Inverno
Que te aquece a dormir
Eu quero as palavras,
Que me tocam e me dizem que sem mim não és feliz
Suave... a tua voz tão suave
Porquê?
Te arrancaram de mim, assim
Diz-me porquê?
Se te esqueceste ou não de mim
Porquê?
Não somos imortais
Porquê?
Pergunto?
Não posso mais!
Eu não posso mais!
Guarda no teu peito a chama
Onde irás sempre ouvir
A voz de quem te ama
E que te quer sentir
Eu quero o teu corpo
Que me enche, me preenche e que eu só quero tocar
Suave... a tua pele tão suave"
Devia ter ido à festa de lançamento, ontem à noite, no Hard Rock Café...
segunda-feira, abril 02, 2007
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