sexta-feira, dezembro 28, 2007

descobri-a!

Actualmente, podem encontrá-la - Débora Gonçalves - no programa "Família Supersta" e nos concertos dos Anjos.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Eu, às vezes

Crónica semanal dele, António Lobo Antunes.

"E agora começa a anoitecer tão cedo. (…) o fim do dia sempre me trouxe, sei lá porquê, uma espécie de tristeza mansa, um desejo vago de coisas mais vagas ainda, uma inquietação doce, um estado de alma impossível de exprimir, não inteiramente agradável, não inteiramente desagradável, estranho apenas, um
(como dizer?)
sorriso com uma lágrima tranquila dentro, percebem? Tão difícil traduzir as emoções em palavras, é tão pobre o vocabulário que temos (…). dizia que começa a anoitecer tão cedo, as árvores do dia que nada têm a ver com as árvores da noite, misteriosas, densas, falando, falando, a engordarem de pássaros. Janelas iluminadas e eu a imaginar as vidas atrás das cortinas. (…) Gestos femininos bonitos sempre, a delicadeza com que as mulheres tocam nos objectos, a harmonia dos dedos: somos pesados e sem graça, nós os homens, ao pé delas. Pesados, brutos, canhestros: não possuímos seja o que for de ave ou de nuvem, a nossa carne é densa e gaguejante. Dá-me uma paz de eternidade ver uma mulher numa casa, o modo como o seu corpo habita o espaço, a forma como vestem, de si mesmas, os compartimentos, com um simples passo, um simples olhar. E depois uma espécie de inocência primordial, de leveza habitável: devo ter sido muito feliz na barriga da minha mãe, por dentro da sua voz, do seu sangue. Faz noventa anos agora e continua com dezoito. (…) A solidão tem um cheiro próprio que se sente à distância. (…) não fica nada, enquanto os gestos das mulheres vão colorindo o silêncio. (…) Noventa anos, a minha mãe, que número impossível. Porque diabo consentiu que o tempo passasse, diga lá? Pequenina, frágil, indefesa. (…) O sorriso mudou, transformou-se num clima resignado, com uma chuvinha perpétua. (…)
eu que tenho passado o tempo a bater a portas abertas por timidez, por vergonha. A porta aberta e eu à entrada, com os nós dos dedos, tac tac. Gosto da expressão nós dos dedos, eles que não possuem nós. (…) E começa a anoitecer tão cedo? (…) O que faremos nós se a noite não acabar nunca? Convoco os meus mortos, os meus vivos, aqueço as mãos na saudade de ti, e aquecer as mãos na saudade de ti há-de chegar para eu ser feliz. As vidas além das cortinas iguais à minha? Diferentes? (…) Qual o meu nome verdadeiro por trás do António que as pessoas conhecem? Não tenho nome: sou estas mãos, este corpo, esta caneta que escreve. (…) O que haverá de mais eterno que uma menina a brincar? Em todas as mulheres, até na minha mãe, vejo uma menina a brincar. (…) Quero viver. Não faço ideia como isto apareceu na página mas quero viver. Sou tanta gente às vezes. As árvores à noite que não cessam, não cessam. Não morro nunca, pois não? Não morro nunca. Prometo. (…) Não tenho jeito. Estendo a palma para ti e não tenho jeito: sou apenas um homem. (…)"

a moment like this

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Grande Entrevista

O convidado de Judite de Sousa na última semana foi Salvador Mendes de Almeida.

De toda a conversa, reveladora, verdadeira, inspiradora e iluminada, isto:

"temos que ser felizes com o que temos... e não com o que deveríamos ou gostaríamos de ter"


Porque tem sido este o meu lema.
Porque espero que seja esse o vosso (nosso) compromisso para 2008.
E daí em diante.
Porque só assim faz sentido!

É assim que vos desejo um novo ano brilhante e um Natal aconchegado por aqueles que amam*

segunda-feira, dezembro 10, 2007

José Cota in the house!

Depois de um jantar de Natal atribulado, na 6a...

O meu sábado foi passado a dançar Hip-Hop.
Um dia em cheio, portanto.

Sem querer ferir susceptibilidades, a tarde foi de arromba.
José Cota veio até Coimbra para nos ensinar um pouco de todos os diferentes estilos, dentro do Hip-Hop.

Quem me dera que assim fosse, se não todos os dias, no mínimo 3 vezes por semana!

Fez-me lembrar quando comecei as minhas "expedições" por workshops e seminários de dança.
Saudades!
A certeza de que é a actividade que mais me preenche, realiza e apaixona.

Quanto a ele, o bailarino e o professor, respira dança por todos os poros.
E, quando assim é, é um prazer!

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Nós


Foi ontem, no TAGV.
As músicas, as luzes, as projecções (documentário poderoso, este), os músicos, a entrega, a postura, a atmosfera, a envolvência, ...
Morri!

sexta-feira, novembro 30, 2007

Não há pessoas perfeitas...

... mas há frases assim, que dizem tudo!
(Esta, tive que roubá-la.)


"E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Miguel Sousa Tavares

quinta-feira, novembro 29, 2007

Cintura


A apresentação foi ontem, na Fnac.
As músicas ainda não conheço, mas foi bom vê-los tão de perto.
Ela, Manuela Azevedo, é linda e perfeita na dosagem que faz da sua intensidade!

terça-feira, novembro 27, 2007

Fazes-me falta

"Quando o pior acontecia, aquele sorriso descia às minhas trevas com um soluço de baloiço, um gingar de gonzos arrancado às cordas da infância. Eu sentava-me nele e subia, balouçando, até à luz."

"Ninguém mais vai estar à minha espera, não terei de me disfarçar de desculpas, não voltarei a iludir ou desiludir ninguém."

"(...) essa gargalhada póstuma destoaria do meu belo arquivo de gargalhadas tuas. Estragava-lhe a estética, entendes?"

"Como sabes, eu vivo por relâmpagos, contigo partilhei uma trovoada um pouco mais longa do que o habitual. Foi apenas isso."


"(...) o meu olhar sem órbitas move-se por ampliações máximas de pormenores mínimos."


"- Vê-se tão bem quem joga com tudo o que é e quem joga só com o corpo, dizias tu."


"De repente, estava quase velho – como toda a vida me apetecera ser. Com direito a resmungar, a jorrar sentenças e lançar ralhetes, a ter razão respeitada de quem já não espera ter mais nada. E vi-me esvaziado, sem perceber porquê. Com vontade de resmungar sem razão, de sentenciar sem sentido. De experimentar de novo a arrogância aflita da juventude."

"Há tantas coisas que nunca te disse – e dizias tu que eu falava demais. Flutuo por este noante em busca dessas palavras a menos, atravessadas entre nós como um longo corredor de prisão. (...) não te perdoo o que não soubeste saber de mim. (...) não me perdoo o que não soube verter-te de mim."

"É verdade que não paravas de falar. Mesmo ou sobretudo sem palavras, com o movimento do teu corpo, a força dos teus abraços em carne viva."

"Fazes-me falta, merda – já te disse?"

"Tanto que eu queria agora dar-te o amor total e infantil que tinha para te dar. Racionei-o a vida inteira como a porra de um chocolate de leite – por que vivemos como se o tempo nos pertencesse infinitamente, como se pudéssemos repetir tudo de novo, como se pudéssemos alguma coisa?"

"Eu usava a música como banda sonora, canções feitas à medida de cada estado de alma (...)."

"Há uma energia ética nos funerais. Um desespero pelo bem que lança pó de estrelas nos olhos e apaga os pequenos ressentimentos quotidianos. Amanhã voltaremos a invejar-nos uns aos outros. A maldizer o próximo pela calada. A trair grandes amigos em pequenos cafés de negócios. A ser bonzinhos só de vez em quando."

"Quando as coisas deixam de durar, alteram-se. O simples facto de deixarem de ser altera-se, por mais que procuremos fazê-las estancar."


"Todos os filhos nascem póstumos de um amor que já não flutua no ar que respiram. Tentativas, tentações de ampliar o conhecimento da vida, quando a vida só se deixa conhecer pela porta escura da ignorância, do desentendimento."

"Há quanto tempo não me arde o coração?"

"Sempre fui nostálgica, sobretudo do que não chegou a acontecer. Dos deslumbramentos a haver."

"Enganam e consolam, as palavras. Como a seda."

"Morri tantas vezes antes de morrer – morri sempre que o amor parava, e o amor estava sempre a parar dentro de mim. Parava e crescia, comia tudo o que eu sabia."

"Consolamo-nos na beleza imediata das coincidências, escapa-nos a beleza catastrófica dos acasos."


"Ainda terei tempo para te esquecer? O teu riso em carrossel, é esquecível?"

"Demasiado tarde. São estas as palavras mais tristes de qualquer língua."

"Todos nós saltamos de galho em galho como pardais, poucos ousam o voo picado das águias. Faz-me falta essa tua ousadia (...)."

"Tão efémeras, as cumplicidades radiosas. Encontros de pele, de ideias, de atmosferas, (...)."

"Ninguém é capaz de descrever a curva dos teus dedos (...)."

"A dor precisa de um corpo. Limites de pele, unhas, ranho, suor. A incapacidade de sair, a coragem irremediável de viver o tempo. Paciência, peso, cérebro ardendo."

"Terei saudades de ti, ou da inocência que eu tinha quando te conheci?"


"E o teu cheiro. Ofereci o perfume que usavas a uma amiga minha. Ela usou-o, e não era o mesmo. Deixei-a e vim para casa chorar o teu corpo irrepetível."

"Só vivendo sobre a mudança se podia evitar a dor, só contornando a monstruosa perfeição do tempo se podia vencê-lo. Assim pensava, e enganei-me, porque o tempo não é pensável."

"Separados, éramos muito mais úteis ao extremoso grupo de amigos que criáramos do que juntos, cintilantes e perigosos como um par de amantes. Os seres que criáramos precisavam de nos matar para sobreviver. E nós deixámo-nos matar, porque está na natureza d
o amor estilhaçar-se sem ruído, desfazer-se em vidros e pesar-nos (...)."


"Tudo o que tocamos se desfaz. Depois fica-nos o vício da decomposição, o perfume intoxicante das coisas mortas."

"Encontrámo-nos demasiado cedo numa civilização descrente de encontros definitivos. Entendíamo-nos inteiramente."


"(...) terei chegado a dizer-te que essa transparência seduzia infinitamente mais do que todos os sobrepostos véus das divas que invejavas?"

"Sentia uma vontade violenta de me desmoronar em ti. Não, não era fazer amor. Fazer amor não existe, porra, o amor não se faz. O amor desaba sobre nós já feito, não o controlamos (...)."


"Durante muitos meses apenas nos víamos. Não nos olhávamos. Até que veio ter connosco aquele momento."

"Sabes que começo a esquecer o som do teu riso?"

"Terás alguma vez entendido que o bem que eu queria para mim era só o de ser quem era?"

"Sei tão pouco de ti."

"Foi sem querer. Se deixei de te comover, de te divertir, de te inspirar, (...) foi sem querer. Se perdi a capacidade de te ferir e fazer sangrar, foi sem querer. Foi sem querer que te copiei, para não te perder, para não perceberes que eu se calhar não era capaz."

"A vida consiste nisso mesmo: em que nos usemos, da melhor maneira que pudermos. Usei-te eu como devia? Porque me sobras tanto, ainda?"


Inês Pedrosa

domingo, novembro 25, 2007

quarta-feira, novembro 21, 2007

terça-feira, novembro 20, 2007

Portugal, um retrato social


Não consegui acompanhar a série, pela RTP, nem fui a tempo de a fazer pelo "Público".
Resta-me a banda sonora.
De Rodrigo Leão!
O que me acontece com ele é uma poderosa sensação de que lhe conheço as músicas, de que já as ouvi, de que me são familiares...

domingo, novembro 18, 2007

So far away from me


Navegando nas palavras

"Tenho as minhas hesitações, passo a vida pendurado no instinto, passo tempos infinitos ansioso e febril, outros completamente desligado, reconheço que sou portador de algum egoísmo, gosto de pentear luares e recordações (...)."


"encontrar a frase perfeita no saber dos silêncios acumulados. (...)"


"magoaram-me
e eu estupidamente magoei-te
(...)"


"podem esventrar-me o corpo
dilacerar-me a alma
mas nunca chegarão à essência
(...)"


"só alguém embriagado pela utopia, pode amar neste mundo em ruínas..."


"há noites em que o dia nunca mais rompe
o sol tarda em nascer desenhando efémeras
a escuridão arde em febres altas
a lua não aparece para desenhar as estrelas
lá fora as almas choram por dois dedos de ternura
(...)"


"libertemo-nos de olhares bocejantes
que insistem em dar sentido ao tédio
(...)"


"(...)
salva-me o teu ventre
em forma de violino
deposito o meu beijo sedento

sons apenas sons
o diálogo dos corpos vibrantes
partimos juntos a abraçar o céu"


"podemos esquecer-nos de nós
podemos esquecer-nos dos caminhos

mas nunca esqueceremos
os olhos que um dia nos amaram"


"(...) Por que será que, quando tiram as mãos dos bolsos, invariavelmente é para apontar o dedo? invariavelmente é para entregar noutras mãos as causas incómodas."


"são mais dolorosos os gritos mudos dos silêncios, que os berros estridentes dos arautos. os primeiros deixam marcas profundas na alma, os segundos anestesiam as consciências já adormecidas."


"perfeita nas tuas imperfeições"


"quando dois olhares francos se cruzam
nasce um sorriso"


"(...)
não sei há quanto tempo tinha estas cores guardadas
à espera de uma flor em forma de melodia do destino
(...)"


"ainda que te doa o corpo
ainda que as pálpebras fiquem pesadas
abre o peito de par em par
como uma janela para a serenidade"


"ando à minha procura
esqueço-me sempre do último lugar onde me deixei"


"um ganho por maior que seja
não repara uma perda"


"Como seria bom que o sorriso das crianças se pegasse aos mais crescidos."


No domingo passado, ainda fui a tempo da apresentação do último livro de António Paiva.
Esta é a minha selecção.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Isabel Stilwell

"E a terra e o mar tremem a sério quando os outros não são aquilo que achávamos que eram, e nos traem. Não porque nos espetem um punhal nas costas, mas porque, por alguma razão - até simplesmente por não nos termos dado ao trabalho de os olhar com olhos de ver - se comportam de uma maneira diferente da prevista, ou seja, não nos tratam com a lealdade que nos era devida, não agem com a honestidade que esperávamos ou pisam riscos que para nós são inultrapassáveis.

(...)

E regista-se um terramoto de dez na escala de Richter quando nos traímos a nós mesmos e não somos nada daquilo que gostaríamos de ser."

segunda-feira, novembro 12, 2007

Dose perfeita!




Este domingo, vitória do meu Benfica, derrota do SCP e empate do FCP...
... cocktail foi explosivo!

Nada de especial

Não comprei a Visão da última semana e só agora é que tive acesso à crónica de António Lobo Antunes.

Deixo-vos o final:


"(...) uma palma no nosso ombro
- O que foi?
e construimos peça a peça um sorriso difícil
(custa tanto um sorriso)
que responde por nós
- Não foi nada."

A desforra!





Há algum tempo que queria voltar à ponte pedonal Pedro e Inês, mas ainda não tinha tido oportunidade, ou por outras coisas a fazer, falta de vontade, falta de tempo...
No sábado, quando saí da Faculdade, fui para lá directa.
Foram quase duas horas em cima da ponte, encostada e virada para a Ponte Rainha Santa Isabel (ou Ponte Europa, como preferirem), a apanhar sol, a observar aquele cenário, as gaivotas, as pessoas.
Soube-me maravilhosamente!

sexta-feira, novembro 09, 2007

Versão virtual

Agora, para além das nossas aulas, podemos encontrar-nos virtualmente... e todos podem fazer parte do nosso mundo.

Sejam bem-vindos ao cantinho Corpo & Mente!

Lares da terceira idade

A propósito do Fórum TSF de hoje...

"O encerramento de um lar ilegal veio relançar o debate sobre o apoio aos idosos e voltámos a ouvir dizer que a falta de oferta favorece o aparecimento de casas clandestinas. No Fórum TSF, queremos ouvir a sua opinião sobre um problema que acabará por nos afectar a todos. Queremos saber se estamos a fazer o suficiente para criar uma rede de lares de terceira idade que responda às necessidades do país."


... gostei de um comentário:

"Não se combate a solidão com multidão!"

quarta-feira, novembro 07, 2007

Acho que vou chegar atrasada...


... mas vou!

:)

Sistema imunitário precisa-se!

Hoje, na TSF, isto:

"Um estudo feito pelo Conselho de Higiene revelou que um quarto dos portugueses não lava as mãos antes das refeições. Ainda segundos este estudo, metade dos portugueses não lava as mãos após espirrar, sendo que um em cada dez não o faz após ir à casa de banho.

(...)"



Acho que para quem tem vida social e sabe observar, estes dados não são uma novidade.
No entanto, parece-me exagerado ter de ir lavar as mãos cada vez que espirre!
É que com tantos "cuidados", o sistema imunitário deixa de criar defesas.
Não?

terça-feira, novembro 06, 2007

Ontem, a esta hora...

... estava a assistir a uma autópsia!

Era algo que esperava desde Setembro.
Apesar de algum receio, por não saber como o meu organismo iria reagir, queria muito ver.
Forte e impressionante, a experiência: as cores e os sons vão ficar na memória, assim como a certeza da inutilidade do corpo, quando já se partiu...
(Igual, a minha convicção de querer ser cremada.)

Stand up for Journalism

O Sindicato dos Jornalistas apelou à participação de toda a classe no Dia Europeu dos Direitos dos Jornalistas, que se assinalou ontem, como jornada de luta por melhores condições laborais e um jornalismo condigno.

"Sob o lema Stand up for Journalism (Levantem-se pelo Jornalismo), esta iniciativa da Federação Europeia de Jornalistas (FEJ) pretende alertar para a pressão política sobre os média, o decréscimo da qualidade da imprensa, o aumento da precariedade nas condições de trabalho da classe, o ataque generalizado à contratação colectiva e o desrespeito pelos direitos dos jornalistas na Europa."


É preciso!

sábado, novembro 03, 2007

Sul - Viagens

"As ordens que levava não cumpri
E assim contando tudo quanto vi
Não sei se tudo errei ou descobri"




Há demasiado tempo que a leitura se arrastava...
O facto de não ser uma sequência, uma estória (mas várias), permitiram-me fazê-lo.
E hoje, lá consegui terminá-lo!

Para quem não sabe, Miguel Sousa Tavares é filho de Sophia de Mello Breyner Andresen.
"Uma das pessoas que me ensinou a viajar foi a minha mãe. Ensinou-mo com uma simples frase. A única vez que viajámos juntos, fomos a Roma. (...) Mas estávamos ali há demasiado tempo, era a primeira vez que vinha a Roma e tinha, logicamente, alguma pressa de seguir caminho e ir ver outras coisas. Sentindo a minha impaciência, a minha mãe disse-me: "Miguel, viajar é olhar." Até hoje, fiquei sempre cativo desta frase e do que ela implica e compromete o verdadeiro viajante. Tal como a minha mãe escreveu algures, só o olhar não mente, porque todo o real é verdadeiro. (...)"
Assim começa o livro.
E assim termina:
"O que mais deixei para trás, em cada viagem que fiz, foram os amigos que não voltei a ver. Amigos verdadeiros, instantâneos, instintivos, amigos do peito, para toda a vida. (...) Tudo é genuíno e generoso nesses encontros e, quanto maiores são as diferenças, mais evidente se torna o que é essencial nas relações entre as pessoas. (...)"

Intensamente recomendável!


"at any moment
the person you thought you were
can vanish in the blink of an eye"

quinta-feira, novembro 01, 2007

10 anos

Há mais do que isso, quando os ouvi na primeira eliminatória do "Casa de Artistas", na RTP1, não imaginaria que dali a algum tempo viria a estar presente na festa de lançamento do primeiro álbum.

Foi naquela noite, em casa, que me apaixonei.
Acima de tudo, pelas vozes.
O timbre, a afinidade entre elas, o feeling que transmitiam...

Acabaram por passar à semi-final e à final, ganhando o programa com o tema "Unchained Melody".
Ainda hoje sei o cunho pessoal que lhe deram, os improvisos que fizeram.
Lembro-me da coreografia, simples e elegante, e da felicidade ao ouvirem os seus nomes.

Depois, surgiram com o projecto Sétimo Céu.
Bom.
Mas não me preenchia, porque eu gostava deles, daquela conjugação entre presença e voz, daquelas afinidade e harmonia.

Lá me devem ter ouvido, uma vez que mais tarde apareceram, finalmente só os dois.
Desde essa altura, já tanta coisa aconteceu.
Na minha vida e na deles.
E, no entanto, a paixão continua.
Por serem verdadeiros naquilo que fazem.
Por terem vozes lindas, que me arrepiam.
Por lhes adivinhar os improvisos, as reacções, os olhares, os movimentos, a respiração...

São dos melhores ao vivo em Portugal, de certeza absoluta.
São dos meus eleitos.

É um prazer imenso ver os concertos cheios, as pessoas a cantarem as músicas, a dizerem que gostam muito.
Ainda mais interessante é observar as reacções, quando, num espectáculo, há aquele cepticismo inicial... os risinhos, as piadas, as ironias, do género "deixa cá ver o que é isto e tal"... e, no fim, senti-los rendidos àquela naturalidade com que os manos estão em palco e os encaram nos olhos.

Já passei por várias fases.
Já tive mais tempo para os ver e ouvir.
Mas o encantamento não desaparece.
As memórias também não.
E são tantas.
De mim, deles, de estar com eles, de pessoas que eles me fazem lembrar, sempre, passe o tempo que passar!


(Isto, na sequência de um concerto que acabou de ser transmitido na SIC, o primeiro da tournée "10 anos"... dos Anjos!)

domingo, outubro 28, 2007

Ainda o filme

Para que percebam, caso não o tenham visto, fica aqui a apreciação da minha amiga GK.
(Só não concordo com a parte das personagens, incluindo a da Angelina.)

"Quem é que consegue ficar indiferente a uma história que se sabe ser verdadeira até ao mais pequeno detalhe?"Um Coração Poderoso" (A Mighty Heart") retrata ao pormenor os dias vividos por Mariane, esposa de Daniel Pearl, aquando do rapto do jornalista do Wall Street Journal em Karachi, no Paquistão, pouco depois da guerra (também mediática) no Afeganistão.O final trágico da história já quase todos o conhecem. O que não conhecem é o dia a dia caótico de uma cidade vizinha da guerra, onde a diferença entre estar vivo e estar morto pode residir na nacionalidade ou na religião da família.Esta é uma obra triste e densa, sem quaisquer pretensões políticas, que filma pormenores sem pudor e deixa brilhar, talvez demais, uma Angelina Jolie morena e sempre perfeita no papel de esposa grávida atormentada, mas racional. O retrato, sem julgamentos ou condenações, das diferenças culturais e das consequências reais da "guerra ao terror" é talvez o melhor deste filme. O pior será o facto do espectador nunca conseguir esquecer que Angelina… é Angelina e a falta de profundidade de todas as personagens secundárias."



Depois, na minha busca pela net, encontrei um artigo de Nicolau Santos, director-adjunto do Expresso (publicado a 18 de Setembro):

"O filme "Coração Poderoso", que estreou na passada semana em Portugal remete-nos para o drama que conduziu à morte do jornalista Daniel Pearl, do Wall Street Journal, quando no Paquistão conduzia uma investigação e tentava encontrar-se com um perigoso líder religioso, suspeito de incentivar ou mesmo ordenar ataques a alvos norte-americanos e ocidentais.

Pearl, como se sabe, caiu numa armadilha, foi raptado, fotografado com as mãos algemadas e uma pistola apontada à cabeça, com os seus raptores a sublinharem que aquele era também o tratamento que os norte-americanos estavam a dar a prisioneiros suspeitos de apoiarem as acções dos taliban e da Al-Qaeda na tristemente célebre prisão de Guantanamo em Cuba.

As investigações policiais decorreram a par de negociações na tentativa de libertar Pearl, mas o filme deixa três explicações para a morte brutal do jornalista, que era suposto não se verificar. 1) O Wall Street Journal noticiou que daria todo o apoio à CIA no combate ao terrorismo, passando Pearl a ser acusado de ser um agente daquele organismo; 2) Pearl reconheceu que era judeu; 3) Pearl disse que o seu bisavô era um dos fundadores de Israel e que tinha uma rua com o seu nome em Telavive.

Talvez nenhuma destas seja a verdadeira explicação para a tragédia, mas antes o facto da polícia secreta paquistanesa estar a prender um conjunto de suspeitos, entre os quais dirigentes religiosos fundamentalistas, aproximando-se do grupo que tinha raptado Pearl. E estes, acossados, terão optado pela execução. A parte mais impressionante do filme concentra-se, contudo, em duas cenas. A primeira em que a polícia recebe uma máquina de filmar, onde vê o que aconteceu a Pearl.

Os espectadores não vêem as imagens que a câmara trouxe, mas reconhecem no horror estampada na cara dos policiais toda a brutalidade do que aconteceu. A segunda é a cena em que Angelina Jolie, que interpreta o papel da mulher de Pearl, toma conhecimento da morte do marido - e solta um profundo grito de desespero, quase desumano, que só por si vale um Óscar.

Mas tudo isto vem a propósito de saber quem passou as imagens contidas na câmara para a Internet. Sim, porque, saindo da ficção para a realidade brutal, eu fui dos que recebi o video em que o assassino de Pearl o deita no chão, coloca-lhe uma bota em cima da cabeça e com uma faca de caça começa a cortar-lhe o pescoço. Sabemos depois pelo filme que o corpo de Pearl foi encontrado cortado em vários bocados.

Não sei de quem foi a responsabilidade da divulgação do video. Não sei se serve os propósitos dos assassinos, infundindo medo em todos os que se lhes opõem, ou dos polícias, mostrando o que nos espera se os assassinos vencerem.

Sei apenas que o assassínio que eu vi, contra um cidadão indefeso, foi a coisa mais vil, brutal e cobarde que me foi dado assistir até hoje. De uma violência inaudita, animalesca, quase diria demoníaca, praticada por alguém sem um pingo de humanidade.

E é evidente que contra estes actos, os estados democráticos têm todo o direito de se defender e de ripostar com a violência permitida por lei - ao mesmo tempo que devem conduzir planos que ajudem a acabar com a miséria, a ignorância e as desigualdades sociais que assolam muitas partes do mundo. E que são as verdadeiras causas que, exploradas por fanáticos, conduzem a actos como este."



Confesso que acabei por encontrar parte desse vídeo...

quinta-feira, outubro 25, 2007

hã?!

O belo do anúncio:

"Empresa de Comunicação & Marketing precisa contratar um profissional de comunicação para integrar equipa jovem e dinâmica.

Idade acima de 30 anos
Experiência no mínimo de 4 anos em comunicação
Bons conhecimentos das ferramentas informáticas
bons conhecimentos de inglês
Disponibilidade imediata

Remuneração inicial: 600,00€"


Lá interessa se a pessoa tem 4 ou 10 anos de experiência,
se é competente,
se tem casa, filhos, contas p'ra pagar...

É assim, ignora-se tudo o resto.
Os anos que se andou a estudar,
o investimento que se fez...

Até quando é que vai ser assim?
Ninguém diz nada?
Ninguém faz nada?!
Ainda por cima numa área que se diz privilegiada, que se pressupõe ser clara, correcta, objectiva, transparente, ...

Estou farta de ver anúncios destes.
Cansada de ver, ouvir e experienciar situações idênticas!

segunda-feira, outubro 22, 2007

Se eu fosse Deus parava o sol sobre Lisboa

“Este final de Setembro, o mês dos meus anos, tem-me custado. Perguntas sobre perguntas acerca de mim mesmo e a angústia do sentido da vida e da forma como me relaciono com ela. O que posso fazer? (…) Os meus defeitos aparece-me de forma muito clara e dolorosa. Não só os meus defeitos: as minhas insuficiências, os meus erros. Sempre imaginei que um livro resgatava tudo: não resgata. E no entanto continuo a escrever, como se esse acto contivesse em si a minha salvação. Sei bem que chegará um tempo em que apenas os livros hão-de contar porque eu, enquanto pessoa, não tenho importância alguma, às vezes nem para mim mesmo. (…) Não estou deprimido, não me sobra tempo para depressões, sou apenas um homem, diante do seu espelho interior, que não gosta do que vê. O que poderia ter feito? O que deveria ter feito? Esta permanente tortura que a gente disfarça. A ideia recorrente que aquilo, quer dizer que a única coisa que a vida nos dá é um certo conhecimento dela que chega tarde demais, sempre tarde demais. Grandes cães pretos que se entredevoram dentro de mim. (…) Agora dei duas entrevistas, coisa que nunca deveria ter feito. Não ponho em causa a competência ou a honestidade dos jornalistas mas não me revejo em nada daquilo. Não sou assim e não sou capaz de exprimir o que sou. Os livros falam muito melhor do que eu. (…) Acho-me cansado desses jogos. Apetece-me desaparecer atrás das palavras, ser de facto o ninguém que sou: um nome apenas, numa capa. E deixar o resto para mim, dado que não tem nenhuma importância colectiva.
(…) Se eu pudesse passar a vida a limpo, como diz o Drummond, corrigia quase tudo. Que pena não podermos emendar os dias, o que fizemos, o que somos. (…) Acabando esta crónica retomo a correcção do livro na esperança de, ao emendá-lo, emendar-me. Fui sempre honesto a escrever. E nas outras coisas? Estarei a ser pretencioso ao julgar que sim?
Agora é manhã e está sol. Se eu fosse Deus parava o sol sobre Lisboa, escreveu Fernando Assis Pacheco. Tão linda a minha cidade com sol, tão lindo o meu país com sol. Vem aí o Outono, o inverno, o cinzento dos dias que desbota para nós. Não me apetece nada o frio, a chuva. (…) Que sorte escrever em português. Fernão Lopes: esta minguada maneira de meu escrever. Esta minguada maneira de todos nós escrevermos. (…) Fernão Lopes ou Fernão Mendes Pinto? (…) Oxalá o sol continue parado sobre Lisboa, parado sobre mim e eu embalsamado nele. Vestido dele. Afogado nele. (…) Nada mudou e tudo mudou: como eu gostava de ser pragmático em lugar de viver numa nuvem cujos limites, aliás, distingo mal. Ou então a nuvem sou eu. (…) Estou a deixar a caneta correr ao gosto dela, sem policiar nada. Que faça o que lhe apeteça. (…)
- Como estás tu?
é a pergunta mais difícil de responder do mundo. Na tropa tínhamos um dentista que era um soldado a quem ensinaram a arrancar dentes. A gente sentava-se numa cadeira de braços, ele pegava um alicate, dizia
- Frime-se
e começava a puxar. Estou a vê-lo tirar um molar ao capelão, com o joelho no peito dele porque o molar não vinha. Para o fim chorava o dentista, chorava o padre, secavam as lágrimas, o alicate avançava de novo
- Frime-se meu capelão
o capelão todo agarradinho aos braços da cadeira, o joelho imenso nas costelas, o barulho arrepiante do dente a quebrar-se, a ceder, a sair e o capelão branco como papel cavalinho a cambalear na parada. Nos momentos de desespero ordeno-me
- Frima-te
e começo a puxar o primeiro dente da alma que apanho, de joelho apoiado em mim mesmo. (…) Pois bem, devo ordenar-me
- Frima-te
e tirar a minha chuva interior a alicate. Se com o capelão deu resultado porque bulas não há-de dar comigo? (…) Ora aí está a solução: parar o sol sobre Lisboa, parar o sol sobre mim
- Frima-te António
até deixar de ter precisão de frimar-me.”


A. Lobo Antunes




Quantos de vocês o admitem?

sábado, outubro 13, 2007

The Illusionist

(ainda não vi!)


"A real mystery. I saw remarkable things but the only mystery I never solved was... why my heart couldn't let go of you."

quarta-feira, outubro 10, 2007

"Querer" é a resposta

Simples e nada rebuscada, ao contrário do que se costuma ouvir 'por aí'!


"A thousand miles seems pretty far, but they've got planes and trains and cars,
I'd walk to you if I had no other way..."

Já tinha saudades...


... da minha Dança Jazz!
É só esperar mais uns diazitos para poder fazer a aula como toda a gente.

domingo, outubro 07, 2007

No regresso...

... foi esta a banda sonora:

"e em cada beijo, eu descubro um céu que nunca vi"

"eu quero as palavras,
que me tocam e me dizem que sem mim não és feliz"

"ouvir no escuro do meu quarto essa tua voz
dizer que ainda me amas e me queres ao meu ouvido"

Mais um amigo

No Inter Cidades para Lisboa, na sexta-feira, ia no banco à minha frente uma mãe com o respectivo filho.
Ela um bocadinho tia, ele chamava-se Martim.
Soube-o logo, pelas inúmeras vezes que ela o chamava.

O menino começou por olhar para trás, pelos intervalos dos bancos, escondendo-se logo, assim que eu reparava.
Depois, já se mostrava, aparecendo de joelhos no banco, junto à janela. E, volta e meia, lá olhava de forma (tentando, claro) discreta.
Fazia por dar um bocadinho nas vistas, como faz parte.
Entretanto, atirou-me um cartão com um nome escrito: "Martim".
Devolvi-lho.
O mesmo cartão voltou a surgir, 'do ar', com mais qualquer coisa escrita.
Imperceptível.
Acabou por acalmar, só olhando de vez em quando ou por entre os bancos, ou mesmo por cima, para se esconder logo de seguida.
Mais tarde, ouvi-o a perguntar à mãe "como é que se escreve ...?".
Ela lá lhe explicou.
E lá veio outro papelito, em 'voo picado', quase: "Como te chamas" (escrito pela mão da mãe).
Ao que eu respondi "queres que escreva ou que te diga?".

O suficiente para iniciarmos ali uma conversa que só terminou quando ele, Martim, de 6 anos, teve que ir embora (desceu na Gar do Oriente, eu sairia em Santa Apolónia).
Lindo, querido, genuíno, como qualquer criança!
Adorei toda aquela táctica de aproximação.
Tão óbvia e tão deliciosamente natural e espontânea.
Fez-me imensas perguntas, ao que eu tentei corresponder, fazendo-lhe outras.
Ficou de me dar os tazzos repetidos, do Benfica, que lhe saírem no Bollycao.
E, disse-o à mãe e depois a mim, garantiu que vai sempre só conhecer "raparigas bonitas!".
Acreditei, claro.

quinta-feira, outubro 04, 2007

Tá difícil...

Correio do Leitor

Algumas reacções à entrevista de António Lobo Antunes, na Visão da semana passada, publicadas na edição de hoje:

"Foi uma agradável surpresa ler a entrevista (V760). Devo confessar que não sou leitor de Lobo Antunes, não sei explicar porquê. Estou cheio de curiosidade de ler o seu novo livro. O que mais me impressionou foi a frontalidade e a «nudez» que deixou bem vincada."

"António Lobo Antunes é o meu escritor vivo de referência. Acompanhei o seu sofrimento e constato como veio aumentar ainda mais o seu potencial como escritor, metendo-se nas personagens das histórias que escreve de uma forma diferente."

"Fantástico! Na escrita, nas entrevistas, tudo vindo «daqui» é muito bom. Nas entrevistas posso (e faço sempre) efectuar o exercício de ouvir a voz de António Lobo Antunes. É fácil para mim ouvir a voz dele. A qualidade da escrita, o timbre da voz são eternos. E obrigado pela lição de vida."


Tem uma voz linda, de facto!

A Matemática e o uso de máquina calculadora

Pergunta do Fórum TSF de hoje:

"No dia em que termina a discussão pública sobre as alterações ao programa de Matemática, vamos debater uma proposta que está a dividir professores e especialistas. Em causa está o facto de se incentivar o uso de máquina de calcular logo no primeiro ciclo. Há quem argumente que isto facilita a compreensão das crianças… há quem alerte que o uso indiscriminado das calculadoras faz perder a destreza do cálculo. No Fórum TSF queremos ouvir a sua opinião: as crianças devem ou não usar as máquinas de calcular logo nos primeiros anos do Ensino Básico?"

Minha opinião?
Não!

sábado, setembro 29, 2007

E eu amo-o!

“Bastou um dia para lhe mudar a vida. Em Março deste ano, António Lobo Antunes, 65 anos, entrou no Hospital de Santa Maria com o manuscrito em que trabalhava debaixo do braço. E dali já não saiu. A notícia, brutal, de que tinha um cancro, chegaria pouco depois. (...) Agora, seis meses passados, o escritor lança O Meu Nome É Legião (...).”


Ontem, já não saí da Fnac sem um exemplar.
Hoje, aqui vos deixo alguns excertos da entrevista desta semana, na Visão.

(Não deixem de a comprar, porque vale a pena tê-la na íntegra!)


“Quando a mão está feliz, os livros parecem-me sempre ditados.”

“O livro refere-se a um bairro em concreto, embora eu nunca lá tenha estado. Sempre me impressionou o facto de aqueles miúdos não terem raízes de espécie alguma. (...) E, no entanto, há neles uma sede de ternura, um desejo de amor absolutamente inextinguível. (...) O Meu Nome É Legião era por isso um livro de amor. De amor por uma geração, por uma classe social sozinha e abandonada, por um grupo de pessoas desesperadamente à procura de uma razão de existir.”
“Estão de tal maneira abandonados que matar pessoas é a única maneira que têm de pedir colo.”

“Aquilo não é sequer um subúrbio. (...) Aquilo é muito pior do que isso. Aquilo é o inferno. Aquelas pessoas vivem num inferno onde eu nunca entrei.”

“Não sei se os leitores entenderão que o livro está a transbordar de amor. Custou-me muito que aquelas personagens morressem. (...) Sempre me comoveu ver o desamparo em que as pessoas vivem. (...) Vivemos num certo desamparo, numa certa desprotecção.”

“Agora, de três em três meses, recebo um prémio. (...) É muito agradável recebê-los, mas um prémio nada tem a ver com a literatura, na medida em que não melhora nem piora os livros.”
“Sabe, este foi um ano muito duro para mim. Para além de ter recebido constantes lições de dignidade e de coragem por parte de pessoas anónimas, aprendi a ter ainda mais respeito e admiração pelos portugueses. Compreendi porque é que fomos nós a ir naqueles barquinhos de 14 metros sem quilha, porque é que atravessámos o Atlântico, porque é que fizemos o que fizemos. E fiquei muito orgulhoso quando percebi que o povo ainda é o mesmo. Fez-me lembrar aqueles versos de Sophia: «Esta gente cujo rosto/ Às vezes luminoso/ E outras vezes tosco/ Ora me lembra escravos/ Ora me lembra reis».”
“Aprendi a admirar as pessoas do meu País. E a respeitá-las ainda mais. E a amá-las ainda mais. E a gostar cada vez mais delas. A partir daí, tudo o resto se tornou relativo. (...) O que me interessa, neste momento, é poder ter tempo para escrever, viver o suficiente para conseguir acabar o meu trabalho sem decepcionar os que acreditam em mim.”

“Ser pedreiro, médico ou outra coisa qualquer também dá muito trabalho. E ser doente, ser doente dá muito trabalho.”

“O que posso dizer é que eu e todos os outros doentes só recebemos atenções. Dos médicos e dos enfermeiros, mas também das pessoas mais modestas que lá trabalham. Se dizem que tratam mal os doentes nos hospitais, a minha experiência foi justamente a contrária. Sempre vi os doentes serem tratados com a maior dignidade.”

“Tudo isto me fez ter saudades da Medicina. Pela primeira vez. E, nos últimos tempos, tenho tido saudades.”

“Sofri muito e, ao mesmo tempo, toda esta experiência também me enriqueceu. Sai-se disto com mais amor pela vida e com a sensação de que é uma honra estar-se vivo.”

“É claro que tomei consciência da minha finitude, porque todos vivemos em função de eternidades.”

“Para quem souber ler, exponho-me muito mais nos livros. (...) Quando me fala em serenidade, é evidente que estou muito mais sereno, muito mais seguro do valor do meu trabalho.”
“A seguir à operação, nem sequer escrevia. Estava sentado numa cadeira, sem ler, sem fazer nada, a olhar para a parede. Estive quase dois meses assim. Não tinha nada dentro.”

“E, como nunca tinha feito uma interrupção, só me perguntava: será que sou capaz de retomar o livro? Depois, devagar, comecei a aproximar-me dele, sem lhe tocar, sem lhe tocar mesmo. (...) Acho que agora estou a escrever como nunca escrevi.”

“Já não minto. Já não componho o perfil. Estou aqui diante de vós, nu e desfigurado. Porque a nudez desfigura sempre. Agora, jogo com as cartas abertas.”

“Ninguém escreve assim. Não tenho a menor dúvida de que não há, na língua portuguesa, quem me chegue aos calcanhares. E nada disto tem a ver com vaidade porque, como sabe, sou modesto e humilde. A doença trouxe-me isso.”

“Por mais que racionalmente pensemos que o cancro se cura, associamo-lo à morte. (...) Não é ver a morte à minha frente, é vê-la dentro de mim. Já está cá, é uma parte de nós. Não requer coragem, apenas dignidade e elegância.”

“Compreendi a frase de Hemingway, quando quiseram saber o que é que ele achava da morte e a resposta foi: «Outra puta». Porque a morte é sempre uma puta e, a uma puta, não se pode dar confiança. (...) Não tenho que viver com um filho da puta. Eu não vivo com um cabrão, quero destruí-lo, não quero viver com ele.”
“De qualquer maneira, sei que, mais tarde ou mais cedo, a puta virá. Só espero ter tempo para acabar o meu trabalho.”

“Lembro-me sobretudo de uma rapariga de 20 anos que usava uma cabeleira postiça. Percebia-se logo que a cabeleira era postiça, mas ela usava-a com tanta dignidade que era como se fosse uma coroa. Uma coroa de rainha. E era, de facto, uma rainha que ali estava.”

“Porque, ao lado, vi pessoas que estavam muito piores do que eu. Pessoas sem esperança, à espera da morte. As minhas hipóteses eram grandes e, por isso, às vezes, sinto-me culpado. Mas é verdade que me sinto mais livre, sinto-me muito mais livre. Livre para escrever, livre para viver, livre para amar. (...) Eu agora, digo, eu agora digo. E isso foi uma conquista porque, de repente, tornou-se evidente que esta é a única maneira de viver. (...) O meu avô morreu e, ainda hoje, sinto remorsos por não lhe ter dito que gostava muito dele.”

“Não sei se morremos assim. Não sei se não ficamos cá. Não sei se Camões está morto. Mas isso não tem importância, eu não sou importante, os livros é que são importantes.”

“Acho graça à maneira como, nas entrevistas, as pessoas se tentam compor, se penteiam para arranjar o cabelo, ajeitam a gravata, retocam a maquilhagem. Para quê? Para seduzir? Para tentar que gostem delas? Para fazer boa figura perante os leitores? Tudo isso já me é completamente indiferente. É uma conquista recente, ganha com tudo aquilo por que passei. Estar aqui à sua frente é a única maneira de estar.”