segunda-feira, setembro 25, 2006

GK, é isto!

De entre tantas coisas que já li e com as quais me identifiquei, esta é a que melhor se adequa a este momento:


"O sono que desce sobre mim,
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,
O sono universal que desce individualmente sobre mim -
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser dono.

Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
É o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.

O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.

(...)"

Álvaro de Campos


Estes últimos seis meses foram um misto de várias emoções, de algumas decisões.
Andei quase sempre numa grande angústia.
Por um lado, o estar ocupada.
Por outro, o não estar realizada.
Nunca pensei que fosse tão complicado gerir.
Por vezes, estive mesmo para acabar com tudo.
Mas, depois, vinha o meu lado racional.
Só que também não sei se já terei idade para ser assim, tão racional!(?)

No meio de sonhos e talentos, acabei por descobrir uma profissão deveras aliciante e que me preenche.
Foi para isso que estudei e trabalhei.
Podia não ter boas notas a tudo, mas à minha verdadeira paixão não a deixei ficar mal.
Mas, até agora, isso não me valeu de absolutamente nada.
Não consigo arranjar trabalho naquilo que gosto!
E o pior é que não estou a conseguir conviver com essa realidade.
Devo lutar, batendo constantemente contra a parede?
Ou devo resignar-me, como a maioria dos portugueses, e contentar-me com um salário certinho ao fim do mês?
Juro que não sei!

Claro, o dinheiro tem-me dado jeito, nestes últimos tempos, apesar de não ser muito.
Entretanto, soube que o meu contrato não vai ser renovado.
Sei que o erro foi meu: nunca escondi que procurava algo, outra coisa - muito diferente - na minha área.

Devia ter ficado calada.
Mas também acaba por ser um alívio.
No entanto, é sempre preferível sermos nós a sair (pelo menos, para o ego).

Gostaria de acreditar que tudo isto tem um propósito.
Que talvez seja um favor que me estão a fazer.
Só que não consigo deixar de pensar na incógnita dos próximos tempos...

Porque é que acreditamos sempre que connosco tudo pode ser diferente? Tudo pode ser melhor?

segunda-feira, setembro 18, 2006

Noite...

...

"Vem soleníssima,
Soleníssima e cheia
De uma oculta vontade de soluçar,
Talvez porque a alma é grande e a vida pequena,
E todos os gestos não saem do nosso corpo
E só alcançamos onde o nosso braço chega,
E só vemos até onde chega o nosso olhar."

Álvaro de Campos

Dia-a-dia

A confirmação de que nada é suficiente...

quarta-feira, setembro 13, 2006

Há pouco...

... na loja, um Sr., enquanto confirmava a actualização de algumas leis no novo Código Civil, perguntou-me se eu ainda estava a estudar ou se já tinha terminado.

Lá lhe expliquei a minha situação: que, infelizmente, não estou a trabalhar na minha área e que estou a pensar continuar a estudar, para o próximo ano. Pós-Graduação e Mestrado.
Isto se nada me trocar as voltas.

O Sr. disse que achava que eu fazia muito bem, que não podia ficar parada.
Quando se foi embora, "não deixe de lutar!".

quarta-feira, setembro 06, 2006

A propósito...

... do primeiro ano, identifiquei-me plenamente com o que o Bruno Nogueira escreveu:

"(...) escrevo hoje, e sempre, para esvaziar palavras que me magoam a parte de cima da cabeça com as pontas afiadas.
Palavras que dormem mal, adormeço-as aqui.
Restos de letras mal acabadas que achei desperdício apagar num cinzeiro.
Dou-vos, com tudo o que sei.
Entenda-se:
Sempre apaguei pretensões do que quer que seja.
Não pretendo por o ego em bicos de pés.
Só escrever.
E saber-vos a ler."

Nem acredito!

Acaso acho que é a melhor palavra para descrever o aparecimento deste meu bloguito.
Na altura, ia só inscrever-me para poder comentar num outro blog.
Acabei por me inspirar e criar o nome.
O resto foi fluindo.

Agora, por mero acaso também, constato que já fez um ano.
E eu nem reparei!
Foi no dia 1 de Setembro de 2005...
Como o tempo passa!

Uma coisa engraçada: assim como eu, na minha vida, no meu dia-a-dia, não digo certas coisas minhas, porque demasiado íntimas... aqui também não considero que tenha uma grande exposição.
Claro que, por um lado, poderia mais facilmente aqui dizer o que me apetece.
E faço-o.
Mas sempre com uma dose de racionalidade, de censura.
Não sei.

Gosto de escrever, sabendo que alguém vai ler, compreender, identificar-se.
É reconfortante.
Assim como quando eu leio algo que percebo logo, de imediato.

Obrigada pela vossa companhia!
Obrigada pelo vosso feedback!
Obrigada pelos vossos comentários, sempre tão generosos!


"(...)
Como se escrever não fosse uma coisa feita de gestos,
Como se escrever fosse uma coisa que me acontecesse
Como dar-me o sol de fora.

Procuro dizer o que sinto
Sem pensar o que sinto.
Procuro encostar as palavras à ideia.
E não precisar de um corredor
Do pensamento para as palavras.

(...)
E assim escrevo, ora bem, ora mal,
Ora acertando com o que quero dizer, ora errando,
Caindo aqui, levantando-me acolá,
Mas indo sempre no meu caminho como um cego teimoso.

(...)"

Alberto Caeiro

terça-feira, setembro 05, 2006