terça-feira, março 20, 2007

Assim, é um prazer





A propósito do dia de amanhã, 21 de Março, contactei algumas pessoas para gravarem um poema e respectiva (e breve) apresentação do autor.
Consegui falar com estes três senhores.
Algo que já tinha feito, durante o meu estágio.
E, mais uma vez, adorei.
Pela gentileza, acho.
Deixo-vos com o poema de José Jorge Letria.
Pena que não seja o próprio som gravado.
Espero que esteja bem transcrito.
"O poema com o qual me associo a esta celebração do Dia Mundial da Poesia, que também é o Dia Mundial da Árvore, é um poema chamado “Contacto”, e que é um poema de educação do meu pai… que partiu cedo demais, quando eu tinha 16 anos e que nunca deixou de ser uma presença viva, ainda que distante e simbólica, no meu imaginário. É assim que eu o recordo e recordarei sempre:
Contacto

Eu chamo-te e tu não me ouves.
Estarás atrás daquela estrela, disfarçado…
Ou oculto numa nebulosa, à espera da palavra que te resgate.
Eu chamo-te e tu talvez me oiças, mas não possas responder-me,
Porque o vazio da noite não permite a partilha de sons e de afectos
A uma tão grande distância.

Às vezes, bastava-me olhar para o céu para ter a certeza que observavas
Todos os meus gestos, todos os meus passos.
Era como se as nuvens guardassem um sorriso teu, no seu bojo de ventos e de chuvas.
Adormecia tranquilo, no agasalho dessa crença.

Guardo, numa gaveta da escrivaninha, a tua carteira, os teus óculos, o teu lenço…
O lenço que usavas no dia em que partiste.
E já lá vão tantos, tantos anos.

De repente, dei pela falta dos teus telefonemas, das perguntas inquietas
Que me controlavam as horas e as errâncias.
Tinhas medo.
Um medo terrível de me perder e, afinal, fui eu que te perdi.

Dizem que foi a vontade de Deus…
E agora eu chamo-te e tu já não me ouves.
Ou será que ouves e que a pequena estrela pálida, trémula, esquiva,
Que me ilumina a manhã,
É apenas uma forma de o céu escrever a palavra “pai”."