Ontem, já não saí da Fnac sem um exemplar.
Hoje, aqui vos deixo alguns excertos da entrevista desta semana, na Visão.
(Não deixem de a comprar, porque vale a pena tê-la na íntegra!)
“Quando a mão está feliz, os livros parecem-me sempre ditados.”
“O livro refere-se a um bairro em concreto, embora eu nunca lá tenha estado. Sempre me impressionou o facto de aqueles miúdos não terem raízes de espécie alguma. (...) E, no entanto, há neles uma sede de ternura, um desejo de amor absolutamente inextinguível. (...) O Meu Nome É Legião era por isso um livro de amor. De amor por uma geração, por uma classe social sozinha e abandonada, por um grupo de pessoas desesperadamente à procura de uma razão de existir.”
“O livro refere-se a um bairro em concreto, embora eu nunca lá tenha estado. Sempre me impressionou o facto de aqueles miúdos não terem raízes de espécie alguma. (...) E, no entanto, há neles uma sede de ternura, um desejo de amor absolutamente inextinguível. (...) O Meu Nome É Legião era por isso um livro de amor. De amor por uma geração, por uma classe social sozinha e abandonada, por um grupo de pessoas desesperadamente à procura de uma razão de existir.”
“Estão de tal maneira abandonados que matar pessoas é a única maneira que têm de pedir colo.”
“Aquilo não é sequer um subúrbio. (...) Aquilo é muito pior do que isso. Aquilo é o inferno. Aquelas pessoas vivem num inferno onde eu nunca entrei.”
“Não sei se os leitores entenderão que o livro está a transbordar de amor. Custou-me muito que aquelas personagens morressem. (...) Sempre me comoveu ver o desamparo em que as pessoas vivem. (...) Vivemos num certo desamparo, numa certa desprotecção.”
“Agora, de três em três meses, recebo um prémio. (...) É muito agradável recebê-los, mas um prémio nada tem a ver com a literatura, na medida em que não melhora nem piora os livros.”
“Aquilo não é sequer um subúrbio. (...) Aquilo é muito pior do que isso. Aquilo é o inferno. Aquelas pessoas vivem num inferno onde eu nunca entrei.”
“Não sei se os leitores entenderão que o livro está a transbordar de amor. Custou-me muito que aquelas personagens morressem. (...) Sempre me comoveu ver o desamparo em que as pessoas vivem. (...) Vivemos num certo desamparo, numa certa desprotecção.”
“Agora, de três em três meses, recebo um prémio. (...) É muito agradável recebê-los, mas um prémio nada tem a ver com a literatura, na medida em que não melhora nem piora os livros.”
“Sabe, este foi um ano muito duro para mim. Para além de ter recebido constantes lições de dignidade e de coragem por parte de pessoas anónimas, aprendi a ter ainda mais respeito e admiração pelos portugueses. Compreendi porque é que fomos nós a ir naqueles barquinhos de 14 metros sem quilha, porque é que atravessámos o Atlântico, porque é que fizemos o que fizemos. E fiquei muito orgulhoso quando percebi que o povo ainda é o mesmo. Fez-me lembrar aqueles versos de Sophia: «Esta gente cujo rosto/ Às vezes luminoso/ E outras vezes tosco/ Ora me lembra escravos/ Ora me lembra reis».”
“Aprendi a admirar as pessoas do meu País. E a respeitá-las ainda mais. E a amá-las ainda mais. E a gostar cada vez mais delas. A partir daí, tudo o resto se tornou relativo. (...) O que me interessa, neste momento, é poder ter tempo para escrever, viver o suficiente para conseguir acabar o meu trabalho sem decepcionar os que acreditam em mim.”
“Ser pedreiro, médico ou outra coisa qualquer também dá muito trabalho. E ser doente, ser doente dá muito trabalho.”
“O que posso dizer é que eu e todos os outros doentes só recebemos atenções. Dos médicos e dos enfermeiros, mas também das pessoas mais modestas que lá trabalham. Se dizem que tratam mal os doentes nos hospitais, a minha experiência foi justamente a contrária. Sempre vi os doentes serem tratados com a maior dignidade.”
“Tudo isto me fez ter saudades da Medicina. Pela primeira vez. E, nos últimos tempos, tenho tido saudades.”
“Sofri muito e, ao mesmo tempo, toda esta experiência também me enriqueceu. Sai-se disto com mais amor pela vida e com a sensação de que é uma honra estar-se vivo.”
“É claro que tomei consciência da minha finitude, porque todos vivemos em função de eternidades.”
“Ser pedreiro, médico ou outra coisa qualquer também dá muito trabalho. E ser doente, ser doente dá muito trabalho.”
“O que posso dizer é que eu e todos os outros doentes só recebemos atenções. Dos médicos e dos enfermeiros, mas também das pessoas mais modestas que lá trabalham. Se dizem que tratam mal os doentes nos hospitais, a minha experiência foi justamente a contrária. Sempre vi os doentes serem tratados com a maior dignidade.”
“Tudo isto me fez ter saudades da Medicina. Pela primeira vez. E, nos últimos tempos, tenho tido saudades.”
“Sofri muito e, ao mesmo tempo, toda esta experiência também me enriqueceu. Sai-se disto com mais amor pela vida e com a sensação de que é uma honra estar-se vivo.”
“É claro que tomei consciência da minha finitude, porque todos vivemos em função de eternidades.”
“Para quem souber ler, exponho-me muito mais nos livros. (...) Quando me fala em serenidade, é evidente que estou muito mais sereno, muito mais seguro do valor do meu trabalho.”
“A seguir à operação, nem sequer escrevia. Estava sentado numa cadeira, sem ler, sem fazer nada, a olhar para a parede. Estive quase dois meses assim. Não tinha nada dentro.”
“E, como nunca tinha feito uma interrupção, só me perguntava: será que sou capaz de retomar o livro? Depois, devagar, comecei a aproximar-me dele, sem lhe tocar, sem lhe tocar mesmo. (...) Acho que agora estou a escrever como nunca escrevi.”
“Já não minto. Já não componho o perfil. Estou aqui diante de vós, nu e desfigurado. Porque a nudez desfigura sempre. Agora, jogo com as cartas abertas.”
“Ninguém escreve assim. Não tenho a menor dúvida de que não há, na língua portuguesa, quem me chegue aos calcanhares. E nada disto tem a ver com vaidade porque, como sabe, sou modesto e humilde. A doença trouxe-me isso.”
“Por mais que racionalmente pensemos que o cancro se cura, associamo-lo à morte. (...) Não é ver a morte à minha frente, é vê-la dentro de mim. Já está cá, é uma parte de nós. Não requer coragem, apenas dignidade e elegância.”
“E, como nunca tinha feito uma interrupção, só me perguntava: será que sou capaz de retomar o livro? Depois, devagar, comecei a aproximar-me dele, sem lhe tocar, sem lhe tocar mesmo. (...) Acho que agora estou a escrever como nunca escrevi.”
“Já não minto. Já não componho o perfil. Estou aqui diante de vós, nu e desfigurado. Porque a nudez desfigura sempre. Agora, jogo com as cartas abertas.”
“Ninguém escreve assim. Não tenho a menor dúvida de que não há, na língua portuguesa, quem me chegue aos calcanhares. E nada disto tem a ver com vaidade porque, como sabe, sou modesto e humilde. A doença trouxe-me isso.”
“Por mais que racionalmente pensemos que o cancro se cura, associamo-lo à morte. (...) Não é ver a morte à minha frente, é vê-la dentro de mim. Já está cá, é uma parte de nós. Não requer coragem, apenas dignidade e elegância.”
“Compreendi a frase de Hemingway, quando quiseram saber o que é que ele achava da morte e a resposta foi: «Outra puta». Porque a morte é sempre uma puta e, a uma puta, não se pode dar confiança. (...) Não tenho que viver com um filho da puta. Eu não vivo com um cabrão, quero destruí-lo, não quero viver com ele.”
“De qualquer maneira, sei que, mais tarde ou mais cedo, a puta virá. Só espero ter tempo para acabar o meu trabalho.”
“Lembro-me sobretudo de uma rapariga de 20 anos que usava uma cabeleira postiça. Percebia-se logo que a cabeleira era postiça, mas ela usava-a com tanta dignidade que era como se fosse uma coroa. Uma coroa de rainha. E era, de facto, uma rainha que ali estava.”
“Porque, ao lado, vi pessoas que estavam muito piores do que eu. Pessoas sem esperança, à espera da morte. As minhas hipóteses eram grandes e, por isso, às vezes, sinto-me culpado. Mas é verdade que me sinto mais livre, sinto-me muito mais livre. Livre para escrever, livre para viver, livre para amar. (...) Eu agora, digo, eu agora digo. E isso foi uma conquista porque, de repente, tornou-se evidente que esta é a única maneira de viver. (...) O meu avô morreu e, ainda hoje, sinto remorsos por não lhe ter dito que gostava muito dele.”
“Não sei se morremos assim. Não sei se não ficamos cá. Não sei se Camões está morto. Mas isso não tem importância, eu não sou importante, os livros é que são importantes.”
“Lembro-me sobretudo de uma rapariga de 20 anos que usava uma cabeleira postiça. Percebia-se logo que a cabeleira era postiça, mas ela usava-a com tanta dignidade que era como se fosse uma coroa. Uma coroa de rainha. E era, de facto, uma rainha que ali estava.”
“Porque, ao lado, vi pessoas que estavam muito piores do que eu. Pessoas sem esperança, à espera da morte. As minhas hipóteses eram grandes e, por isso, às vezes, sinto-me culpado. Mas é verdade que me sinto mais livre, sinto-me muito mais livre. Livre para escrever, livre para viver, livre para amar. (...) Eu agora, digo, eu agora digo. E isso foi uma conquista porque, de repente, tornou-se evidente que esta é a única maneira de viver. (...) O meu avô morreu e, ainda hoje, sinto remorsos por não lhe ter dito que gostava muito dele.”
“Não sei se morremos assim. Não sei se não ficamos cá. Não sei se Camões está morto. Mas isso não tem importância, eu não sou importante, os livros é que são importantes.”
“Acho graça à maneira como, nas entrevistas, as pessoas se tentam compor, se penteiam para arranjar o cabelo, ajeitam a gravata, retocam a maquilhagem. Para quê? Para seduzir? Para tentar que gostem delas? Para fazer boa figura perante os leitores? Tudo isso já me é completamente indiferente. É uma conquista recente, ganha com tudo aquilo por que passei. Estar aqui à sua frente é a única maneira de estar.”