"Fim do banco
A idade vai comendo a vida.
(...)
Acorda-se com um dia a menos, e adormece-se com um dia a mais.
O calendário vai-nos mudando o corpo.
(...)
Os velhos sabem de cor o chão.
Como quem sabe que está quase a chegar lá.
(...)
Com a idade, nunca escolhem o meio, sempre o fim do banco.
(...)
Respiram como podem.
Os olhos já não procuram nada. Já viram tudo.
Vão guardando o passado em rugas, para libertar a cabeça.
Em que pensam?
Na morte?
Os velhos não vivem. Deixam-se viver.
Os filhos já tem a vida deles, não os querem.
(...)
Os velhos choram só com os olhos, que o resto não se vê.
E assim o fazem, no fim do telefonema.
Ninguém os quer com as doenças cheias de idade.
As mãos da idade cheiram a tudo, com as veias cansadas de mostrar o sangue a toda a gente.
As pernas vão perdendo caminho.
Os braços deixam de abraçar.
O coração começa a falhar, já bateu demais mesmo para quem amou pouco.
Vai-se esquecendo de bater.
E uma noite, sem avisar, desaprende.
Desliga os olhos e atira o corpo para o fim.
Ocupam agora o banco todo.
(...)
A cidade não pára, o mundo não interrompe, nada.
Os filhos enterram vinte anos, e guardam os outros sessenta e dois.
Os últimos vinte davam trabalho e de pouco valiam.
Não tem vagar para os guardar.
Mas de hoje em diante, esses vinte vão acordá-los todos os dias.
Até se deitarem sozinhos no banco que os vai deitar."
É dele, claro.
Tão verdade que arrepia!
5 comentários:
Já o tinha lido no blog dele!
Nem de propósito.
Hás-de ter em atenção a letra da música que te enviei.
A frase é tao verdadeira, acordamos para mais um dia com um a menos por viver... :(
Beijo meu,
A Elite
Por acaso estive para fazer o mesmo...mas depois acabei por não fazer (copy/paste).Concordo e está muito bom. Mesmo.
PS-Eu nem sou grande apreciador dele, mas aqui admito que ele se esmerou :)
lindo mesmo. ate me emocionei ao ler quando ele escreveu. doce e ao mesmo tempo amedrontador. *
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