domingo, outubro 28, 2007

Ainda o filme

Para que percebam, caso não o tenham visto, fica aqui a apreciação da minha amiga GK.
(Só não concordo com a parte das personagens, incluindo a da Angelina.)

"Quem é que consegue ficar indiferente a uma história que se sabe ser verdadeira até ao mais pequeno detalhe?"Um Coração Poderoso" (A Mighty Heart") retrata ao pormenor os dias vividos por Mariane, esposa de Daniel Pearl, aquando do rapto do jornalista do Wall Street Journal em Karachi, no Paquistão, pouco depois da guerra (também mediática) no Afeganistão.O final trágico da história já quase todos o conhecem. O que não conhecem é o dia a dia caótico de uma cidade vizinha da guerra, onde a diferença entre estar vivo e estar morto pode residir na nacionalidade ou na religião da família.Esta é uma obra triste e densa, sem quaisquer pretensões políticas, que filma pormenores sem pudor e deixa brilhar, talvez demais, uma Angelina Jolie morena e sempre perfeita no papel de esposa grávida atormentada, mas racional. O retrato, sem julgamentos ou condenações, das diferenças culturais e das consequências reais da "guerra ao terror" é talvez o melhor deste filme. O pior será o facto do espectador nunca conseguir esquecer que Angelina… é Angelina e a falta de profundidade de todas as personagens secundárias."



Depois, na minha busca pela net, encontrei um artigo de Nicolau Santos, director-adjunto do Expresso (publicado a 18 de Setembro):

"O filme "Coração Poderoso", que estreou na passada semana em Portugal remete-nos para o drama que conduziu à morte do jornalista Daniel Pearl, do Wall Street Journal, quando no Paquistão conduzia uma investigação e tentava encontrar-se com um perigoso líder religioso, suspeito de incentivar ou mesmo ordenar ataques a alvos norte-americanos e ocidentais.

Pearl, como se sabe, caiu numa armadilha, foi raptado, fotografado com as mãos algemadas e uma pistola apontada à cabeça, com os seus raptores a sublinharem que aquele era também o tratamento que os norte-americanos estavam a dar a prisioneiros suspeitos de apoiarem as acções dos taliban e da Al-Qaeda na tristemente célebre prisão de Guantanamo em Cuba.

As investigações policiais decorreram a par de negociações na tentativa de libertar Pearl, mas o filme deixa três explicações para a morte brutal do jornalista, que era suposto não se verificar. 1) O Wall Street Journal noticiou que daria todo o apoio à CIA no combate ao terrorismo, passando Pearl a ser acusado de ser um agente daquele organismo; 2) Pearl reconheceu que era judeu; 3) Pearl disse que o seu bisavô era um dos fundadores de Israel e que tinha uma rua com o seu nome em Telavive.

Talvez nenhuma destas seja a verdadeira explicação para a tragédia, mas antes o facto da polícia secreta paquistanesa estar a prender um conjunto de suspeitos, entre os quais dirigentes religiosos fundamentalistas, aproximando-se do grupo que tinha raptado Pearl. E estes, acossados, terão optado pela execução. A parte mais impressionante do filme concentra-se, contudo, em duas cenas. A primeira em que a polícia recebe uma máquina de filmar, onde vê o que aconteceu a Pearl.

Os espectadores não vêem as imagens que a câmara trouxe, mas reconhecem no horror estampada na cara dos policiais toda a brutalidade do que aconteceu. A segunda é a cena em que Angelina Jolie, que interpreta o papel da mulher de Pearl, toma conhecimento da morte do marido - e solta um profundo grito de desespero, quase desumano, que só por si vale um Óscar.

Mas tudo isto vem a propósito de saber quem passou as imagens contidas na câmara para a Internet. Sim, porque, saindo da ficção para a realidade brutal, eu fui dos que recebi o video em que o assassino de Pearl o deita no chão, coloca-lhe uma bota em cima da cabeça e com uma faca de caça começa a cortar-lhe o pescoço. Sabemos depois pelo filme que o corpo de Pearl foi encontrado cortado em vários bocados.

Não sei de quem foi a responsabilidade da divulgação do video. Não sei se serve os propósitos dos assassinos, infundindo medo em todos os que se lhes opõem, ou dos polícias, mostrando o que nos espera se os assassinos vencerem.

Sei apenas que o assassínio que eu vi, contra um cidadão indefeso, foi a coisa mais vil, brutal e cobarde que me foi dado assistir até hoje. De uma violência inaudita, animalesca, quase diria demoníaca, praticada por alguém sem um pingo de humanidade.

E é evidente que contra estes actos, os estados democráticos têm todo o direito de se defender e de ripostar com a violência permitida por lei - ao mesmo tempo que devem conduzir planos que ajudem a acabar com a miséria, a ignorância e as desigualdades sociais que assolam muitas partes do mundo. E que são as verdadeiras causas que, exploradas por fanáticos, conduzem a actos como este."



Confesso que acabei por encontrar parte desse vídeo...

4 comentários:

Andreia disse...

Olá amiga!

Uma boa semana para ti!

Musicology disse...

Comentários à parte, é um dos melhores filmes de 2007!

Rui Caetano disse...

Interessante a análise do filme.

GK disse...

Três "coisicazitas":

- Eu gostei do filme e da Angelina. Mas não consegui nunca esquecer que aquela mulher é a Angelina. É o preço a pagar pelo estrelato. A malta distrai-se do que é importante.

- As duas cenas de que ele fala são brutais. A cena da Angelina a gritar é arrepiante. Levantou-me os cabelinho TODOS. Fiquei sem pingo de sangue. Tmbém acho que merecia, no mínimo, uma beijoca do Brad por aquilo.

- Lembro-me do caso e de falarem do víseo que estava na Internet. E também me lembro de, depois do Daniel Pearl, outras pessoas terem morrido desta forma idiota e de também esses vídeos terem ido parar à net. É o mundo em que vivemos...