quarta-feira, agosto 23, 2006

Paixão

"(...)

A minha paixão por ti
Era um lume
Que não tinha mais lenha
Por onde arder

(...)"

Rui Veloso

quinta-feira, agosto 17, 2006

Sim, acordem!

"Mas...!?

Acordo, e... chuva.
Daqueles dias em que fechamos e abrimos o espanto várias vezes, para termos a certeza que não dormimos duas estações a mais.
Mas não.
Continua a ser Agosto, continua a ser uma vaga de calor como se vestiram poucas em Portugal, mas... com chuva e frio.
Ainda haverá estações?
Ou existiram até nós as adormecermos com sprays e "deito aqui que o caixote está longe"?
O egoísmo de plantar lixo pelo chão vai ao ponto de matarem os filhos, ou com sorte, os netos.
O papel não se vai arrastar sozinho até ao lixo.
E quem é que se vai arrastar quando o mundo estiver demasiado fraco para nos guardar na barriga?
Os "outros".
Eu já não sou do tempo das estações guardadas nos sítios certos.
Para mim o verão já não é sinónimo de calor, nem o Inverno de frio.
Pode lá ter uns dias baralhados ao acaso, mas nada mais.
Os ossos de quem sofre quando muda o tempo, já não sabem quando doer.
Dou por mim a levar roupa de verão e camisolas de inverno, porque ele vai, concerteza, "fazer das dele".
Trocámos tudo, mas pouco nos importa.
Os ossos do mundo não aguentam sozinhos.

Será que matámos o tempo?
Acordem."

Bruno Nogueira



Subscrevo inteiramente!

quarta-feira, agosto 09, 2006

Cafezinho

Ontem obrigaram-me a sair de casa.
Apesar do calor.

E não é que soube bem?
Um suminho de laranja, à beira rio, a saborear o vento... e a conversar.

O melhor foi a companhia, claro.
Mesmo não estando no meu melhor, senti-me confortável.
Nada como estar entre amigos.

Fiquei com a alma aconchegada!

(Já hoje, acordei com um telefonema que voltou a deixar-me demasiado ansiosa!)

sábado, agosto 05, 2006

Já depois disso...

... ouvi esta (numa versão mais recente):

"One

Is it getting better
Or do you feel the same
(...)

(...)

Did I ask too much
(...)
And I can't be holding on
(...)

One love
One blood
One life
You got to do what you should
One life
With each other
Sisters
Brothers
One life
But we're not the same
We get to
Carry each other
Carry each other

One...life

One"

U2


Estou mesmo no meu limite!
Só que não suporto a ideia de voltar a cair...

Coyote Bar

Eis um filme que gosto sempre de rever.
Hoje, por acaso, ainda vi pelo menos a última meia hora.
E, vá-se lá saber porquê (?!), choro sempre no final...
Se calhar até sei.
Revejo-me!

"But you know that you can't fight the moonlight"

quinta-feira, agosto 03, 2006

cais


"Ode Marítima

(...)
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.

(...)

(...)
Inconscientemente simbólico, terrivelmente
Ameaçador de significações metafísicas
Que perturbam em mim quem eu fui...

Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve como uma reordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente minha.

Ah, quem sabe, quem sabe,
Se não parti outrora, antes de mim,
Dum cais; se não deixei, navio ao sol
Oblíquo da madrugada,
Uma outra espécie de porto?
(...)


(...)
Nós os homens construimos
Os nossos cais de pedra actual sobre água verdadeira,
Que depois de construídos se anunciam de repente
Coisas-Reais, Espíritos-Coisas, Entidades em Pedra-Almas,
A certos momentos nossos de sentimento-raiz
(...)

(...)
Ó alma errante e instável da gente que anda embarcada,
Da gente simbólica que passa e com quem nada dura,
Que quando o navio volta ao porto
Há sempre qualquer alteração a bordo!

(...)
Flutuar como alma da vida, partir como voz,
Vover o momento tremulamente sobre águas eternas.
(...)
Ver portos misteriosos sobre a solidão do mar,
(...)

Ah, as praias longínquas, os cais vistos de longe,
E depois as praias próximas, os cais vistos de perto.

O mistério de cada ida e de cada chegada,
A dolorosa instabilidade e incompreensibilidade
Deste impossível universo
A cada hora marítima mais na própria pele sentido!
O soluço absurdo que as nossas almas derramam
Sobre as extensões de mares diferentes com ilhas ao longe,
(...)

Ah, a frescura das manhãs em que se chega,
E a palidez das manhãs em que se parte,
Quando as nossas entranhas se arrepanham
E uma vaga sensação parecida com um medo
(...)
Encolhe-nos a pele e agonia-nos,
E todo o nosso corpo angustiado sente,
Como se fosse a nossa alma,
Uma inexplicável vontade de poder sentir isto doutra maneira:
(...)
Uma oca saciedade de minutos marítimos,
E uma ansiedade vaga que seria tédio ou dor
Se soubesse como sê-lo...

(...)
Acelera-se ligeiramente o volante dentro de mim.
(...)

(...)
E o mundo e o sabor das coisas tornam-se um deserto dentro de nós!
(...)
Todos os mares, todos os estreitos, todas as baías,
Queria apertá-los ao peito, senti-los bem e morrer!

(...)
Caí por mim dentro em montão, em monte,
Como o conteúdo confuso de uma gaveta despejada no chão!
(...)
Porque em real verdade, a sério, literalmente,
Minhas sensações são um barco de quilha prò ar,
Minha imaginação uma âncora meio submersa,
Minha âsia um remo partido,
E, a tessitura dos meus nervos uma rede a secar na praia!

(...)
Acelera-se cada vez mais o volante dentro de mim.

(...)
Porque os mares antigos são a Distância Absoluta,
O Puro Longe, liberto do peso do Actual...
(...)

Toma-me pouco a pouco o delírio das coisas marítimas.
Penetram-me fisicamente o cais e a sua atmosfera,
(...)

Chamam por mim as águas,
Chamam por mim os mares.
(...)

(...)
Apelo lançado ao meu sangue
Dum amor passado, não sei onde, que volve
E ainda tem força para me atrair e puxar,
Que ainda tem força para me fazer odiar esta vida
(...)

Ah, seja como for, seja por onde for, partir!
Largar por aí fora, pelas ondas, pelo perigo, pelo mar.
Ir para Longe, ir para Fora, para a Distância Abstracta,
Indefinidamente, pelas noites misteriosas e fundas,
Levado, como a poeira, plos ventos, plos vendavais!
Ir, ir, ir, ir de vez!

Todo o meu sangue raiva por asas!
Todo o meu corpo atira-se prà frente!
(...)
Estoiram em espuma as minhas ânsias
E a minha carne é uma onda dando de encontro a rochedos!
(...)

(...)
Explode-me todo o meu cérebro!
Parte-se-me o mundo em vermelho!
(...)

E há uma sinfonia de sensações incompatíveis e análogas.
(...)

Arre! por não poder agir de acordo com o meu delírio!
Arre! por andar sempre agarrado às saias da civilização!
(...)

Parte-se em mim qualquer coisa. O vermelho anoiteceu.
Senti demais para poder continuar a sentir.
Esgotou-se-me a alma, ficou só um eco dentro de mim.
Decresce sensivelmente a velocidade do volante.
(...)
Dentro de mim há um só vácuo, um deserto, um mar nocturno.
(...)

(...)
E à tona dele, como algas, bóiam meus sonhos desfeitos...

(...)
O meu passado ressurge, como se esse grito marítimo
Fosse um aroma, uma voz, o eco duma canção
Que fosse chamar ao meu passado
Por aquela felicidade que nunca mais tornarei a ter.

(...)

Ah, como pude eu pensar, sonhar aquelas coisas?
(...)

(...)
Tudo isto foi uma impressão só da pele, como uma carícia.
(...)

(...)
Lembro-me e as lágrimas caem sobre o meu coração e lavam-no da vida,
E ergue-se uma leve brisa marítima dentro de mim.
(...)

Mas tudo isto foi o Passado, lanterna a uma esquina de rua velha.
Pensar nisto faz frio, faz fome duma coisa que se não pode obter.
(...)
Oh turbilhão lento de sensações desencontradas!
Vertigem ténue de confusas coisas na alma!
(...)
Lágrimas, lágrimas inúteis,
Leves brisas de contradição roçando pela face a alma...

(...)

Tremo com frio da alma repassando-me o corpo
E abro de repente os olhos, que não tinha fechado.
(...)

(...)
Abranda o seu giro dentro de mim o volante.

(...)
Lá vai ele deixando o lugar defronte do cais onde estou.
(...)

(...)
Perde-te, segue o teu destino e deixa-me...
Eu quem sou para que chore e interrogue?
(...)
Eu quem sou para que me perturbe ver-te?
(...)
Ponto cada vez mais vago no horizonte...
Nada depois, e só eu e a minha tristeza,
(...)"

Álvaro de Campos

quarta-feira, agosto 02, 2006

por casa


Há uns anos atrás, andava em casa a brincar e bati com o pé (direito) na parede.
Lixei o meu dedo mindinho! Tive que andar, não sei quanto tempo, de pé elástico (já que não há dedo elástico).

Nesta segunda-feira, foi a vez do outro pé (esquerdo).
E no mindinho!
Cá está ele, inchado e com umas pontinhas de sangue pisado... tadinho!

Ontem tive de ir trabalhar de chinelos e fiquei a maior parte do tempo sentada.
Mas o que vale é que hoje e amanhã estou de folga, posso descansar o pé.