Porque o essencial, o que realmente importa, está nas coisas mais simples. pormenoridades@gmail.com
quinta-feira, fevereiro 28, 2008
terça-feira, fevereiro 26, 2008
quarta-feira, fevereiro 20, 2008
Mas o que é que se passa?!
Não percebo o que é que nos faz conduzir assim, sem qualquer respeito pelos outros utentes, apenas preocupados com o nosso umbigo, com o nosso horário, com o que temos (ou não) para fazer.
Porquê não sei, mas estou muito mais cuidadosa na minha condução. Principalmente no que toca à velocidade, já que 10 km/h - a mais ou a menos - fazem toda a diferença, na hora de conseguirmos travar para não marcarmos ninguém para o resto da vida.
Mas as pessoas não olham, não esperam, só querem andar, ainda que "por cima"...
Náuseas, é o que isso me causa!
Lembro-me sempre do Salvador e sei que não quero ficar assim nem prejudicar alguém dessa forma!
(A selva funciona bem melhor!)
Porquê não sei, mas estou muito mais cuidadosa na minha condução. Principalmente no que toca à velocidade, já que 10 km/h - a mais ou a menos - fazem toda a diferença, na hora de conseguirmos travar para não marcarmos ninguém para o resto da vida.
Mas as pessoas não olham, não esperam, só querem andar, ainda que "por cima"...
Náuseas, é o que isso me causa!
Lembro-me sempre do Salvador e sei que não quero ficar assim nem prejudicar alguém dessa forma!
(A selva funciona bem melhor!)
segunda-feira, fevereiro 18, 2008
domingo, fevereiro 03, 2008
be able to breathe
Ok.
Agora sim, posso respirar.
Foram quatro semanas, quatro exames.
Além disso, o trabalho (a entrar às 7h!).
O inglês e o ginásio um pouco abandonados.
Saídas, muito poucas.
Mas acho que valerá a pena.
Uma disciplina já está feita.
O objectivo é não deixar nada para Setembro.
Vamos lá ver se dispenso mais orais.
Espero que por aqui, com vocês, esteja tudo bem!
PS: Não imaginaria, se não o estivesse a experienciar, que trabalhar e estudar custa mesmo!
Agora sim, posso respirar.
Foram quatro semanas, quatro exames.
Além disso, o trabalho (a entrar às 7h!).
O inglês e o ginásio um pouco abandonados.
Saídas, muito poucas.
Mas acho que valerá a pena.
Uma disciplina já está feita.
O objectivo é não deixar nada para Setembro.
Vamos lá ver se dispenso mais orais.
Espero que por aqui, com vocês, esteja tudo bem!
PS: Não imaginaria, se não o estivesse a experienciar, que trabalhar e estudar custa mesmo!
quinta-feira, janeiro 24, 2008
segunda-feira, janeiro 07, 2008
quinta-feira, janeiro 03, 2008
sexta-feira, dezembro 28, 2007
descobri-a!
Actualmente, podem encontrá-la - Débora Gonçalves - no programa "Família Supersta" e nos concertos dos Anjos.
quinta-feira, dezembro 27, 2007
Eu, às vezes
Crónica semanal dele, António Lobo Antunes.
"E agora começa a anoitecer tão cedo. (…) o fim do dia sempre me trouxe, sei lá porquê, uma espécie de tristeza mansa, um desejo vago de coisas mais vagas ainda, uma inquietação doce, um estado de alma impossível de exprimir, não inteiramente agradável, não inteiramente desagradável, estranho apenas, um
(como dizer?)
sorriso com uma lágrima tranquila dentro, percebem? Tão difícil traduzir as emoções em palavras, é tão pobre o vocabulário que temos (…). dizia que começa a anoitecer tão cedo, as árvores do dia que nada têm a ver com as árvores da noite, misteriosas, densas, falando, falando, a engordarem de pássaros. Janelas iluminadas e eu a imaginar as vidas atrás das cortinas. (…) Gestos femininos bonitos sempre, a delicadeza com que as mulheres tocam nos objectos, a harmonia dos dedos: somos pesados e sem graça, nós os homens, ao pé delas. Pesados, brutos, canhestros: não possuímos seja o que for de ave ou de nuvem, a nossa carne é densa e gaguejante. Dá-me uma paz de eternidade ver uma mulher numa casa, o modo como o seu corpo habita o espaço, a forma como vestem, de si mesmas, os compartimentos, com um simples passo, um simples olhar. E depois uma espécie de inocência primordial, de leveza habitável: devo ter sido muito feliz na barriga da minha mãe, por dentro da sua voz, do seu sangue. Faz noventa anos agora e continua com dezoito. (…) A solidão tem um cheiro próprio que se sente à distância. (…) não fica nada, enquanto os gestos das mulheres vão colorindo o silêncio. (…) Noventa anos, a minha mãe, que número impossível. Porque diabo consentiu que o tempo passasse, diga lá? Pequenina, frágil, indefesa. (…) O sorriso mudou, transformou-se num clima resignado, com uma chuvinha perpétua. (…)
eu que tenho passado o tempo a bater a portas abertas por timidez, por vergonha. A porta aberta e eu à entrada, com os nós dos dedos, tac tac. Gosto da expressão nós dos dedos, eles que não possuem nós. (…) E começa a anoitecer tão cedo? (…) O que faremos nós se a noite não acabar nunca? Convoco os meus mortos, os meus vivos, aqueço as mãos na saudade de ti, e aquecer as mãos na saudade de ti há-de chegar para eu ser feliz. As vidas além das cortinas iguais à minha? Diferentes? (…) Qual o meu nome verdadeiro por trás do António que as pessoas conhecem? Não tenho nome: sou estas mãos, este corpo, esta caneta que escreve. (…) O que haverá de mais eterno que uma menina a brincar? Em todas as mulheres, até na minha mãe, vejo uma menina a brincar. (…) Quero viver. Não faço ideia como isto apareceu na página mas quero viver. Sou tanta gente às vezes. As árvores à noite que não cessam, não cessam. Não morro nunca, pois não? Não morro nunca. Prometo. (…) Não tenho jeito. Estendo a palma para ti e não tenho jeito: sou apenas um homem. (…)"
"E agora começa a anoitecer tão cedo. (…) o fim do dia sempre me trouxe, sei lá porquê, uma espécie de tristeza mansa, um desejo vago de coisas mais vagas ainda, uma inquietação doce, um estado de alma impossível de exprimir, não inteiramente agradável, não inteiramente desagradável, estranho apenas, um
(como dizer?)
sorriso com uma lágrima tranquila dentro, percebem? Tão difícil traduzir as emoções em palavras, é tão pobre o vocabulário que temos (…). dizia que começa a anoitecer tão cedo, as árvores do dia que nada têm a ver com as árvores da noite, misteriosas, densas, falando, falando, a engordarem de pássaros. Janelas iluminadas e eu a imaginar as vidas atrás das cortinas. (…) Gestos femininos bonitos sempre, a delicadeza com que as mulheres tocam nos objectos, a harmonia dos dedos: somos pesados e sem graça, nós os homens, ao pé delas. Pesados, brutos, canhestros: não possuímos seja o que for de ave ou de nuvem, a nossa carne é densa e gaguejante. Dá-me uma paz de eternidade ver uma mulher numa casa, o modo como o seu corpo habita o espaço, a forma como vestem, de si mesmas, os compartimentos, com um simples passo, um simples olhar. E depois uma espécie de inocência primordial, de leveza habitável: devo ter sido muito feliz na barriga da minha mãe, por dentro da sua voz, do seu sangue. Faz noventa anos agora e continua com dezoito. (…) A solidão tem um cheiro próprio que se sente à distância. (…) não fica nada, enquanto os gestos das mulheres vão colorindo o silêncio. (…) Noventa anos, a minha mãe, que número impossível. Porque diabo consentiu que o tempo passasse, diga lá? Pequenina, frágil, indefesa. (…) O sorriso mudou, transformou-se num clima resignado, com uma chuvinha perpétua. (…)
eu que tenho passado o tempo a bater a portas abertas por timidez, por vergonha. A porta aberta e eu à entrada, com os nós dos dedos, tac tac. Gosto da expressão nós dos dedos, eles que não possuem nós. (…) E começa a anoitecer tão cedo? (…) O que faremos nós se a noite não acabar nunca? Convoco os meus mortos, os meus vivos, aqueço as mãos na saudade de ti, e aquecer as mãos na saudade de ti há-de chegar para eu ser feliz. As vidas além das cortinas iguais à minha? Diferentes? (…) Qual o meu nome verdadeiro por trás do António que as pessoas conhecem? Não tenho nome: sou estas mãos, este corpo, esta caneta que escreve. (…) O que haverá de mais eterno que uma menina a brincar? Em todas as mulheres, até na minha mãe, vejo uma menina a brincar. (…) Quero viver. Não faço ideia como isto apareceu na página mas quero viver. Sou tanta gente às vezes. As árvores à noite que não cessam, não cessam. Não morro nunca, pois não? Não morro nunca. Prometo. (…) Não tenho jeito. Estendo a palma para ti e não tenho jeito: sou apenas um homem. (…)"
quinta-feira, dezembro 20, 2007
Grande Entrevista
O convidado de Judite de Sousa na última semana foi Salvador Mendes de Almeida.
De toda a conversa, reveladora, verdadeira, inspiradora e iluminada, isto:
"temos que ser felizes com o que temos... e não com o que deveríamos ou gostaríamos de ter"
Porque tem sido este o meu lema.
Porque espero que seja esse o vosso (nosso) compromisso para 2008.
E daí em diante.
Porque só assim faz sentido!
É assim que vos desejo um novo ano brilhante e um Natal aconchegado por aqueles que amam*
De toda a conversa, reveladora, verdadeira, inspiradora e iluminada, isto:
"temos que ser felizes com o que temos... e não com o que deveríamos ou gostaríamos de ter"
Porque tem sido este o meu lema.
Porque espero que seja esse o vosso (nosso) compromisso para 2008.
E daí em diante.
Porque só assim faz sentido!
É assim que vos desejo um novo ano brilhante e um Natal aconchegado por aqueles que amam*
quarta-feira, dezembro 19, 2007
segunda-feira, dezembro 10, 2007
José Cota in the house!
Depois de um jantar de Natal atribulado, na 6a...
O meu sábado foi passado a dançar Hip-Hop.
Um dia em cheio, portanto.
Sem querer ferir susceptibilidades, a tarde foi de arromba.
José Cota veio até Coimbra para nos ensinar um pouco de todos os diferentes estilos, dentro do Hip-Hop.
Quem me dera que assim fosse, se não todos os dias, no mínimo 3 vezes por semana!
Fez-me lembrar quando comecei as minhas "expedições" por workshops e seminários de dança.
Saudades!
A certeza de que é a actividade que mais me preenche, realiza e apaixona.
Quanto a ele, o bailarino e o professor, respira dança por todos os poros.
E, quando assim é, é um prazer!
O meu sábado foi passado a dançar Hip-Hop.
Um dia em cheio, portanto.
Sem querer ferir susceptibilidades, a tarde foi de arromba.
José Cota veio até Coimbra para nos ensinar um pouco de todos os diferentes estilos, dentro do Hip-Hop.
Quem me dera que assim fosse, se não todos os dias, no mínimo 3 vezes por semana!
Fez-me lembrar quando comecei as minhas "expedições" por workshops e seminários de dança.
Saudades!
A certeza de que é a actividade que mais me preenche, realiza e apaixona.
Quanto a ele, o bailarino e o professor, respira dança por todos os poros.
E, quando assim é, é um prazer!
quinta-feira, dezembro 06, 2007
quarta-feira, dezembro 05, 2007
sexta-feira, novembro 30, 2007
Não há pessoas perfeitas...
... mas há frases assim, que dizem tudo!
(Esta, tive que roubá-la.)
"E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."
Miguel Sousa Tavares
(Esta, tive que roubá-la.)
"E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."
Miguel Sousa Tavares
quinta-feira, novembro 29, 2007
Cintura
terça-feira, novembro 27, 2007
Fazes-me falta
"Quando o pior acontecia, aquele sorriso descia às minhas trevas com um soluço de baloiço, um gingar de gonzos arrancado às cordas da infância. Eu sentava-me nele e subia, balouçando, até à luz."
"Ninguém mais vai estar à minha espera, não terei de me disfarçar de desculpas, não voltarei a iludir ou desiludir ninguém."
"(...) essa gargalhada póstuma destoaria do meu belo arquivo de gargalhadas tuas. Estragava-lhe a estética, entendes?"
"Como sabes, eu vivo por relâmpagos, contigo partilhei uma trovoada um pouco mais longa do que o habitual. Foi apenas isso."
"(...) o meu olhar sem órbitas move-se por ampliações máximas de pormenores mínimos."
"- Vê-se tão bem quem joga com tudo o que é e quem joga só com o corpo, dizias tu."
"De repente, estava quase velho – como toda a vida me apetecera ser. Com direito a resmungar, a jorrar sentenças e lançar ralhetes, a ter razão respeitada de quem já não espera ter mais nada. E vi-me esvaziado, sem perceber porquê. Com vontade de resmungar sem razão, de sentenciar sem sentido. De experimentar de novo a arrogância aflita da juventude."
"Há tantas coisas que nunca te disse – e dizias tu que eu falava demais. Flutuo por este noante em busca dessas palavras a menos, atravessadas entre nós como um longo corredor de prisão. (...) não te perdoo o que não soubeste saber de mim. (...) não me perdoo o que não soube verter-te de mim."
"É verdade que não paravas de falar. Mesmo ou sobretudo sem palavras, com o movimento do teu corpo, a força dos teus abraços em carne viva."
"Fazes-me falta, merda – já te disse?"
"Tanto que eu queria agora dar-te o amor total e infantil que tinha para te dar. Racionei-o a vida inteira como a porra de um chocolate de leite – por que vivemos como se o tempo nos pertencesse infinitamente, como se pudéssemos repetir tudo de novo, como se pudéssemos alguma coisa?"
"Eu usava a música como banda sonora, canções feitas à medida de cada estado de alma (...)."
"Há uma energia ética nos funerais. Um desespero pelo bem que lança pó de estrelas nos olhos e apaga os pequenos ressentimentos quotidianos. Amanhã voltaremos a invejar-nos uns aos outros. A maldizer o próximo pela calada. A trair grandes amigos em pequenos cafés de negócios. A ser bonzinhos só de vez em quando."
"Quando as coisas deixam de durar, alteram-se. O simples facto de deixarem de ser altera-se, por mais que procuremos fazê-las estancar."
"Todos os filhos nascem póstumos de um amor que já não flutua no ar que respiram. Tentativas, tentações de ampliar o conhecimento da vida, quando a vida só se deixa conhecer pela porta escura da ignorância, do desentendimento."
"Há quanto tempo não me arde o coração?"
"Sempre fui nostálgica, sobretudo do que não chegou a acontecer. Dos deslumbramentos a haver."
"Enganam e consolam, as palavras. Como a seda."
"Morri tantas vezes antes de morrer – morri sempre que o amor parava, e o amor estava sempre a parar dentro de mim. Parava e crescia, comia tudo o que eu sabia."
"Consolamo-nos na beleza imediata das coincidências, escapa-nos a beleza catastrófica dos acasos."
"Ainda terei tempo para te esquecer? O teu riso em carrossel, é esquecível?"
"Demasiado tarde. São estas as palavras mais tristes de qualquer língua."
"Todos nós saltamos de galho em galho como pardais, poucos ousam o voo picado das águias. Faz-me falta essa tua ousadia (...)."
"Tão efémeras, as cumplicidades radiosas. Encontros de pele, de ideias, de atmosferas, (...)."
"Ninguém é capaz de descrever a curva dos teus dedos (...)."
"A dor precisa de um corpo. Limites de pele, unhas, ranho, suor. A incapacidade de sair, a coragem irremediável de viver o tempo. Paciência, peso, cérebro ardendo."
"Terei saudades de ti, ou da inocência que eu tinha quando te conheci?"
"E o teu cheiro. Ofereci o perfume que usavas a uma amiga minha. Ela usou-o, e não era o mesmo. Deixei-a e vim para casa chorar o teu corpo irrepetível."
"Só vivendo sobre a mudança se podia evitar a dor, só contornando a monstruosa perfeição do tempo se podia vencê-lo. Assim pensava, e enganei-me, porque o tempo não é pensável."
"Separados, éramos muito mais úteis ao extremoso grupo de amigos que criáramos do que juntos, cintilantes e perigosos como um par de amantes. Os seres que criáramos precisavam de nos matar para sobreviver. E nós deixámo-nos matar, porque está na natureza do amor estilhaçar-se sem ruído, desfazer-se em vidros e pesar-nos (...)."
"Tudo o que tocamos se desfaz. Depois fica-nos o vício da decomposição, o perfume intoxicante das coisas mortas."
"Encontrámo-nos demasiado cedo numa civilização descrente de encontros definitivos. Entendíamo-nos inteiramente."
"(...) terei chegado a dizer-te que essa transparência seduzia infinitamente mais do que todos os sobrepostos véus das divas que invejavas?"
"Sentia uma vontade violenta de me desmoronar em ti. Não, não era fazer amor. Fazer amor não existe, porra, o amor não se faz. O amor desaba sobre nós já feito, não o controlamos (...)."
"Durante muitos meses apenas nos víamos. Não nos olhávamos. Até que veio ter connosco aquele momento."
"Sabes que começo a esquecer o som do teu riso?"
"Terás alguma vez entendido que o bem que eu queria para mim era só o de ser quem era?"
"Sei tão pouco de ti."
"Foi sem querer. Se deixei de te comover, de te divertir, de te inspirar, (...) foi sem querer. Se perdi a capacidade de te ferir e fazer sangrar, foi sem querer. Foi sem querer que te copiei, para não te perder, para não perceberes que eu se calhar não era capaz."
"A vida consiste nisso mesmo: em que nos usemos, da melhor maneira que pudermos. Usei-te eu como devia? Porque me sobras tanto, ainda?"
Inês Pedrosa
"Ninguém mais vai estar à minha espera, não terei de me disfarçar de desculpas, não voltarei a iludir ou desiludir ninguém."
"(...) essa gargalhada póstuma destoaria do meu belo arquivo de gargalhadas tuas. Estragava-lhe a estética, entendes?"
"Como sabes, eu vivo por relâmpagos, contigo partilhei uma trovoada um pouco mais longa do que o habitual. Foi apenas isso."
"(...) o meu olhar sem órbitas move-se por ampliações máximas de pormenores mínimos."
"- Vê-se tão bem quem joga com tudo o que é e quem joga só com o corpo, dizias tu."
"De repente, estava quase velho – como toda a vida me apetecera ser. Com direito a resmungar, a jorrar sentenças e lançar ralhetes, a ter razão respeitada de quem já não espera ter mais nada. E vi-me esvaziado, sem perceber porquê. Com vontade de resmungar sem razão, de sentenciar sem sentido. De experimentar de novo a arrogância aflita da juventude."
"Há tantas coisas que nunca te disse – e dizias tu que eu falava demais. Flutuo por este noante em busca dessas palavras a menos, atravessadas entre nós como um longo corredor de prisão. (...) não te perdoo o que não soubeste saber de mim. (...) não me perdoo o que não soube verter-te de mim."
"É verdade que não paravas de falar. Mesmo ou sobretudo sem palavras, com o movimento do teu corpo, a força dos teus abraços em carne viva."
"Fazes-me falta, merda – já te disse?"
"Tanto que eu queria agora dar-te o amor total e infantil que tinha para te dar. Racionei-o a vida inteira como a porra de um chocolate de leite – por que vivemos como se o tempo nos pertencesse infinitamente, como se pudéssemos repetir tudo de novo, como se pudéssemos alguma coisa?"
"Eu usava a música como banda sonora, canções feitas à medida de cada estado de alma (...)."
"Há uma energia ética nos funerais. Um desespero pelo bem que lança pó de estrelas nos olhos e apaga os pequenos ressentimentos quotidianos. Amanhã voltaremos a invejar-nos uns aos outros. A maldizer o próximo pela calada. A trair grandes amigos em pequenos cafés de negócios. A ser bonzinhos só de vez em quando."
"Quando as coisas deixam de durar, alteram-se. O simples facto de deixarem de ser altera-se, por mais que procuremos fazê-las estancar."
"Todos os filhos nascem póstumos de um amor que já não flutua no ar que respiram. Tentativas, tentações de ampliar o conhecimento da vida, quando a vida só se deixa conhecer pela porta escura da ignorância, do desentendimento."
"Há quanto tempo não me arde o coração?"
"Sempre fui nostálgica, sobretudo do que não chegou a acontecer. Dos deslumbramentos a haver."
"Enganam e consolam, as palavras. Como a seda."
"Morri tantas vezes antes de morrer – morri sempre que o amor parava, e o amor estava sempre a parar dentro de mim. Parava e crescia, comia tudo o que eu sabia."
"Consolamo-nos na beleza imediata das coincidências, escapa-nos a beleza catastrófica dos acasos."
"Ainda terei tempo para te esquecer? O teu riso em carrossel, é esquecível?"
"Demasiado tarde. São estas as palavras mais tristes de qualquer língua."
"Todos nós saltamos de galho em galho como pardais, poucos ousam o voo picado das águias. Faz-me falta essa tua ousadia (...)."
"Tão efémeras, as cumplicidades radiosas. Encontros de pele, de ideias, de atmosferas, (...)."
"Ninguém é capaz de descrever a curva dos teus dedos (...)."
"A dor precisa de um corpo. Limites de pele, unhas, ranho, suor. A incapacidade de sair, a coragem irremediável de viver o tempo. Paciência, peso, cérebro ardendo."
"Terei saudades de ti, ou da inocência que eu tinha quando te conheci?"
"E o teu cheiro. Ofereci o perfume que usavas a uma amiga minha. Ela usou-o, e não era o mesmo. Deixei-a e vim para casa chorar o teu corpo irrepetível."
"Só vivendo sobre a mudança se podia evitar a dor, só contornando a monstruosa perfeição do tempo se podia vencê-lo. Assim pensava, e enganei-me, porque o tempo não é pensável."
"Separados, éramos muito mais úteis ao extremoso grupo de amigos que criáramos do que juntos, cintilantes e perigosos como um par de amantes. Os seres que criáramos precisavam de nos matar para sobreviver. E nós deixámo-nos matar, porque está na natureza do amor estilhaçar-se sem ruído, desfazer-se em vidros e pesar-nos (...)."
"Tudo o que tocamos se desfaz. Depois fica-nos o vício da decomposição, o perfume intoxicante das coisas mortas."
"Encontrámo-nos demasiado cedo numa civilização descrente de encontros definitivos. Entendíamo-nos inteiramente."
"(...) terei chegado a dizer-te que essa transparência seduzia infinitamente mais do que todos os sobrepostos véus das divas que invejavas?"
"Sentia uma vontade violenta de me desmoronar em ti. Não, não era fazer amor. Fazer amor não existe, porra, o amor não se faz. O amor desaba sobre nós já feito, não o controlamos (...)."
"Durante muitos meses apenas nos víamos. Não nos olhávamos. Até que veio ter connosco aquele momento."
"Sabes que começo a esquecer o som do teu riso?"
"Terás alguma vez entendido que o bem que eu queria para mim era só o de ser quem era?"
"Sei tão pouco de ti."
"Foi sem querer. Se deixei de te comover, de te divertir, de te inspirar, (...) foi sem querer. Se perdi a capacidade de te ferir e fazer sangrar, foi sem querer. Foi sem querer que te copiei, para não te perder, para não perceberes que eu se calhar não era capaz."
"A vida consiste nisso mesmo: em que nos usemos, da melhor maneira que pudermos. Usei-te eu como devia? Porque me sobras tanto, ainda?"
Inês Pedrosa
segunda-feira, novembro 26, 2007
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