sábado, novembro 03, 2007

Sul - Viagens

"As ordens que levava não cumpri
E assim contando tudo quanto vi
Não sei se tudo errei ou descobri"




Há demasiado tempo que a leitura se arrastava...
O facto de não ser uma sequência, uma estória (mas várias), permitiram-me fazê-lo.
E hoje, lá consegui terminá-lo!

Para quem não sabe, Miguel Sousa Tavares é filho de Sophia de Mello Breyner Andresen.
"Uma das pessoas que me ensinou a viajar foi a minha mãe. Ensinou-mo com uma simples frase. A única vez que viajámos juntos, fomos a Roma. (...) Mas estávamos ali há demasiado tempo, era a primeira vez que vinha a Roma e tinha, logicamente, alguma pressa de seguir caminho e ir ver outras coisas. Sentindo a minha impaciência, a minha mãe disse-me: "Miguel, viajar é olhar." Até hoje, fiquei sempre cativo desta frase e do que ela implica e compromete o verdadeiro viajante. Tal como a minha mãe escreveu algures, só o olhar não mente, porque todo o real é verdadeiro. (...)"
Assim começa o livro.
E assim termina:
"O que mais deixei para trás, em cada viagem que fiz, foram os amigos que não voltei a ver. Amigos verdadeiros, instantâneos, instintivos, amigos do peito, para toda a vida. (...) Tudo é genuíno e generoso nesses encontros e, quanto maiores são as diferenças, mais evidente se torna o que é essencial nas relações entre as pessoas. (...)"

Intensamente recomendável!


"at any moment
the person you thought you were
can vanish in the blink of an eye"

quinta-feira, novembro 01, 2007

10 anos

Há mais do que isso, quando os ouvi na primeira eliminatória do "Casa de Artistas", na RTP1, não imaginaria que dali a algum tempo viria a estar presente na festa de lançamento do primeiro álbum.

Foi naquela noite, em casa, que me apaixonei.
Acima de tudo, pelas vozes.
O timbre, a afinidade entre elas, o feeling que transmitiam...

Acabaram por passar à semi-final e à final, ganhando o programa com o tema "Unchained Melody".
Ainda hoje sei o cunho pessoal que lhe deram, os improvisos que fizeram.
Lembro-me da coreografia, simples e elegante, e da felicidade ao ouvirem os seus nomes.

Depois, surgiram com o projecto Sétimo Céu.
Bom.
Mas não me preenchia, porque eu gostava deles, daquela conjugação entre presença e voz, daquelas afinidade e harmonia.

Lá me devem ter ouvido, uma vez que mais tarde apareceram, finalmente só os dois.
Desde essa altura, já tanta coisa aconteceu.
Na minha vida e na deles.
E, no entanto, a paixão continua.
Por serem verdadeiros naquilo que fazem.
Por terem vozes lindas, que me arrepiam.
Por lhes adivinhar os improvisos, as reacções, os olhares, os movimentos, a respiração...

São dos melhores ao vivo em Portugal, de certeza absoluta.
São dos meus eleitos.

É um prazer imenso ver os concertos cheios, as pessoas a cantarem as músicas, a dizerem que gostam muito.
Ainda mais interessante é observar as reacções, quando, num espectáculo, há aquele cepticismo inicial... os risinhos, as piadas, as ironias, do género "deixa cá ver o que é isto e tal"... e, no fim, senti-los rendidos àquela naturalidade com que os manos estão em palco e os encaram nos olhos.

Já passei por várias fases.
Já tive mais tempo para os ver e ouvir.
Mas o encantamento não desaparece.
As memórias também não.
E são tantas.
De mim, deles, de estar com eles, de pessoas que eles me fazem lembrar, sempre, passe o tempo que passar!


(Isto, na sequência de um concerto que acabou de ser transmitido na SIC, o primeiro da tournée "10 anos"... dos Anjos!)

domingo, outubro 28, 2007

Ainda o filme

Para que percebam, caso não o tenham visto, fica aqui a apreciação da minha amiga GK.
(Só não concordo com a parte das personagens, incluindo a da Angelina.)

"Quem é que consegue ficar indiferente a uma história que se sabe ser verdadeira até ao mais pequeno detalhe?"Um Coração Poderoso" (A Mighty Heart") retrata ao pormenor os dias vividos por Mariane, esposa de Daniel Pearl, aquando do rapto do jornalista do Wall Street Journal em Karachi, no Paquistão, pouco depois da guerra (também mediática) no Afeganistão.O final trágico da história já quase todos o conhecem. O que não conhecem é o dia a dia caótico de uma cidade vizinha da guerra, onde a diferença entre estar vivo e estar morto pode residir na nacionalidade ou na religião da família.Esta é uma obra triste e densa, sem quaisquer pretensões políticas, que filma pormenores sem pudor e deixa brilhar, talvez demais, uma Angelina Jolie morena e sempre perfeita no papel de esposa grávida atormentada, mas racional. O retrato, sem julgamentos ou condenações, das diferenças culturais e das consequências reais da "guerra ao terror" é talvez o melhor deste filme. O pior será o facto do espectador nunca conseguir esquecer que Angelina… é Angelina e a falta de profundidade de todas as personagens secundárias."



Depois, na minha busca pela net, encontrei um artigo de Nicolau Santos, director-adjunto do Expresso (publicado a 18 de Setembro):

"O filme "Coração Poderoso", que estreou na passada semana em Portugal remete-nos para o drama que conduziu à morte do jornalista Daniel Pearl, do Wall Street Journal, quando no Paquistão conduzia uma investigação e tentava encontrar-se com um perigoso líder religioso, suspeito de incentivar ou mesmo ordenar ataques a alvos norte-americanos e ocidentais.

Pearl, como se sabe, caiu numa armadilha, foi raptado, fotografado com as mãos algemadas e uma pistola apontada à cabeça, com os seus raptores a sublinharem que aquele era também o tratamento que os norte-americanos estavam a dar a prisioneiros suspeitos de apoiarem as acções dos taliban e da Al-Qaeda na tristemente célebre prisão de Guantanamo em Cuba.

As investigações policiais decorreram a par de negociações na tentativa de libertar Pearl, mas o filme deixa três explicações para a morte brutal do jornalista, que era suposto não se verificar. 1) O Wall Street Journal noticiou que daria todo o apoio à CIA no combate ao terrorismo, passando Pearl a ser acusado de ser um agente daquele organismo; 2) Pearl reconheceu que era judeu; 3) Pearl disse que o seu bisavô era um dos fundadores de Israel e que tinha uma rua com o seu nome em Telavive.

Talvez nenhuma destas seja a verdadeira explicação para a tragédia, mas antes o facto da polícia secreta paquistanesa estar a prender um conjunto de suspeitos, entre os quais dirigentes religiosos fundamentalistas, aproximando-se do grupo que tinha raptado Pearl. E estes, acossados, terão optado pela execução. A parte mais impressionante do filme concentra-se, contudo, em duas cenas. A primeira em que a polícia recebe uma máquina de filmar, onde vê o que aconteceu a Pearl.

Os espectadores não vêem as imagens que a câmara trouxe, mas reconhecem no horror estampada na cara dos policiais toda a brutalidade do que aconteceu. A segunda é a cena em que Angelina Jolie, que interpreta o papel da mulher de Pearl, toma conhecimento da morte do marido - e solta um profundo grito de desespero, quase desumano, que só por si vale um Óscar.

Mas tudo isto vem a propósito de saber quem passou as imagens contidas na câmara para a Internet. Sim, porque, saindo da ficção para a realidade brutal, eu fui dos que recebi o video em que o assassino de Pearl o deita no chão, coloca-lhe uma bota em cima da cabeça e com uma faca de caça começa a cortar-lhe o pescoço. Sabemos depois pelo filme que o corpo de Pearl foi encontrado cortado em vários bocados.

Não sei de quem foi a responsabilidade da divulgação do video. Não sei se serve os propósitos dos assassinos, infundindo medo em todos os que se lhes opõem, ou dos polícias, mostrando o que nos espera se os assassinos vencerem.

Sei apenas que o assassínio que eu vi, contra um cidadão indefeso, foi a coisa mais vil, brutal e cobarde que me foi dado assistir até hoje. De uma violência inaudita, animalesca, quase diria demoníaca, praticada por alguém sem um pingo de humanidade.

E é evidente que contra estes actos, os estados democráticos têm todo o direito de se defender e de ripostar com a violência permitida por lei - ao mesmo tempo que devem conduzir planos que ajudem a acabar com a miséria, a ignorância e as desigualdades sociais que assolam muitas partes do mundo. E que são as verdadeiras causas que, exploradas por fanáticos, conduzem a actos como este."



Confesso que acabei por encontrar parte desse vídeo...

quinta-feira, outubro 25, 2007

hã?!

O belo do anúncio:

"Empresa de Comunicação & Marketing precisa contratar um profissional de comunicação para integrar equipa jovem e dinâmica.

Idade acima de 30 anos
Experiência no mínimo de 4 anos em comunicação
Bons conhecimentos das ferramentas informáticas
bons conhecimentos de inglês
Disponibilidade imediata

Remuneração inicial: 600,00€"


Lá interessa se a pessoa tem 4 ou 10 anos de experiência,
se é competente,
se tem casa, filhos, contas p'ra pagar...

É assim, ignora-se tudo o resto.
Os anos que se andou a estudar,
o investimento que se fez...

Até quando é que vai ser assim?
Ninguém diz nada?
Ninguém faz nada?!
Ainda por cima numa área que se diz privilegiada, que se pressupõe ser clara, correcta, objectiva, transparente, ...

Estou farta de ver anúncios destes.
Cansada de ver, ouvir e experienciar situações idênticas!

segunda-feira, outubro 22, 2007

Se eu fosse Deus parava o sol sobre Lisboa

“Este final de Setembro, o mês dos meus anos, tem-me custado. Perguntas sobre perguntas acerca de mim mesmo e a angústia do sentido da vida e da forma como me relaciono com ela. O que posso fazer? (…) Os meus defeitos aparece-me de forma muito clara e dolorosa. Não só os meus defeitos: as minhas insuficiências, os meus erros. Sempre imaginei que um livro resgatava tudo: não resgata. E no entanto continuo a escrever, como se esse acto contivesse em si a minha salvação. Sei bem que chegará um tempo em que apenas os livros hão-de contar porque eu, enquanto pessoa, não tenho importância alguma, às vezes nem para mim mesmo. (…) Não estou deprimido, não me sobra tempo para depressões, sou apenas um homem, diante do seu espelho interior, que não gosta do que vê. O que poderia ter feito? O que deveria ter feito? Esta permanente tortura que a gente disfarça. A ideia recorrente que aquilo, quer dizer que a única coisa que a vida nos dá é um certo conhecimento dela que chega tarde demais, sempre tarde demais. Grandes cães pretos que se entredevoram dentro de mim. (…) Agora dei duas entrevistas, coisa que nunca deveria ter feito. Não ponho em causa a competência ou a honestidade dos jornalistas mas não me revejo em nada daquilo. Não sou assim e não sou capaz de exprimir o que sou. Os livros falam muito melhor do que eu. (…) Acho-me cansado desses jogos. Apetece-me desaparecer atrás das palavras, ser de facto o ninguém que sou: um nome apenas, numa capa. E deixar o resto para mim, dado que não tem nenhuma importância colectiva.
(…) Se eu pudesse passar a vida a limpo, como diz o Drummond, corrigia quase tudo. Que pena não podermos emendar os dias, o que fizemos, o que somos. (…) Acabando esta crónica retomo a correcção do livro na esperança de, ao emendá-lo, emendar-me. Fui sempre honesto a escrever. E nas outras coisas? Estarei a ser pretencioso ao julgar que sim?
Agora é manhã e está sol. Se eu fosse Deus parava o sol sobre Lisboa, escreveu Fernando Assis Pacheco. Tão linda a minha cidade com sol, tão lindo o meu país com sol. Vem aí o Outono, o inverno, o cinzento dos dias que desbota para nós. Não me apetece nada o frio, a chuva. (…) Que sorte escrever em português. Fernão Lopes: esta minguada maneira de meu escrever. Esta minguada maneira de todos nós escrevermos. (…) Fernão Lopes ou Fernão Mendes Pinto? (…) Oxalá o sol continue parado sobre Lisboa, parado sobre mim e eu embalsamado nele. Vestido dele. Afogado nele. (…) Nada mudou e tudo mudou: como eu gostava de ser pragmático em lugar de viver numa nuvem cujos limites, aliás, distingo mal. Ou então a nuvem sou eu. (…) Estou a deixar a caneta correr ao gosto dela, sem policiar nada. Que faça o que lhe apeteça. (…)
- Como estás tu?
é a pergunta mais difícil de responder do mundo. Na tropa tínhamos um dentista que era um soldado a quem ensinaram a arrancar dentes. A gente sentava-se numa cadeira de braços, ele pegava um alicate, dizia
- Frime-se
e começava a puxar. Estou a vê-lo tirar um molar ao capelão, com o joelho no peito dele porque o molar não vinha. Para o fim chorava o dentista, chorava o padre, secavam as lágrimas, o alicate avançava de novo
- Frime-se meu capelão
o capelão todo agarradinho aos braços da cadeira, o joelho imenso nas costelas, o barulho arrepiante do dente a quebrar-se, a ceder, a sair e o capelão branco como papel cavalinho a cambalear na parada. Nos momentos de desespero ordeno-me
- Frima-te
e começo a puxar o primeiro dente da alma que apanho, de joelho apoiado em mim mesmo. (…) Pois bem, devo ordenar-me
- Frima-te
e tirar a minha chuva interior a alicate. Se com o capelão deu resultado porque bulas não há-de dar comigo? (…) Ora aí está a solução: parar o sol sobre Lisboa, parar o sol sobre mim
- Frima-te António
até deixar de ter precisão de frimar-me.”


A. Lobo Antunes




Quantos de vocês o admitem?

sábado, outubro 13, 2007

The Illusionist

(ainda não vi!)


"A real mystery. I saw remarkable things but the only mystery I never solved was... why my heart couldn't let go of you."

quarta-feira, outubro 10, 2007

"Querer" é a resposta

Simples e nada rebuscada, ao contrário do que se costuma ouvir 'por aí'!


"A thousand miles seems pretty far, but they've got planes and trains and cars,
I'd walk to you if I had no other way..."

Já tinha saudades...


... da minha Dança Jazz!
É só esperar mais uns diazitos para poder fazer a aula como toda a gente.

domingo, outubro 07, 2007

No regresso...

... foi esta a banda sonora:

"e em cada beijo, eu descubro um céu que nunca vi"

"eu quero as palavras,
que me tocam e me dizem que sem mim não és feliz"

"ouvir no escuro do meu quarto essa tua voz
dizer que ainda me amas e me queres ao meu ouvido"

Mais um amigo

No Inter Cidades para Lisboa, na sexta-feira, ia no banco à minha frente uma mãe com o respectivo filho.
Ela um bocadinho tia, ele chamava-se Martim.
Soube-o logo, pelas inúmeras vezes que ela o chamava.

O menino começou por olhar para trás, pelos intervalos dos bancos, escondendo-se logo, assim que eu reparava.
Depois, já se mostrava, aparecendo de joelhos no banco, junto à janela. E, volta e meia, lá olhava de forma (tentando, claro) discreta.
Fazia por dar um bocadinho nas vistas, como faz parte.
Entretanto, atirou-me um cartão com um nome escrito: "Martim".
Devolvi-lho.
O mesmo cartão voltou a surgir, 'do ar', com mais qualquer coisa escrita.
Imperceptível.
Acabou por acalmar, só olhando de vez em quando ou por entre os bancos, ou mesmo por cima, para se esconder logo de seguida.
Mais tarde, ouvi-o a perguntar à mãe "como é que se escreve ...?".
Ela lá lhe explicou.
E lá veio outro papelito, em 'voo picado', quase: "Como te chamas" (escrito pela mão da mãe).
Ao que eu respondi "queres que escreva ou que te diga?".

O suficiente para iniciarmos ali uma conversa que só terminou quando ele, Martim, de 6 anos, teve que ir embora (desceu na Gar do Oriente, eu sairia em Santa Apolónia).
Lindo, querido, genuíno, como qualquer criança!
Adorei toda aquela táctica de aproximação.
Tão óbvia e tão deliciosamente natural e espontânea.
Fez-me imensas perguntas, ao que eu tentei corresponder, fazendo-lhe outras.
Ficou de me dar os tazzos repetidos, do Benfica, que lhe saírem no Bollycao.
E, disse-o à mãe e depois a mim, garantiu que vai sempre só conhecer "raparigas bonitas!".
Acreditei, claro.

quinta-feira, outubro 04, 2007

Tá difícil...

Correio do Leitor

Algumas reacções à entrevista de António Lobo Antunes, na Visão da semana passada, publicadas na edição de hoje:

"Foi uma agradável surpresa ler a entrevista (V760). Devo confessar que não sou leitor de Lobo Antunes, não sei explicar porquê. Estou cheio de curiosidade de ler o seu novo livro. O que mais me impressionou foi a frontalidade e a «nudez» que deixou bem vincada."

"António Lobo Antunes é o meu escritor vivo de referência. Acompanhei o seu sofrimento e constato como veio aumentar ainda mais o seu potencial como escritor, metendo-se nas personagens das histórias que escreve de uma forma diferente."

"Fantástico! Na escrita, nas entrevistas, tudo vindo «daqui» é muito bom. Nas entrevistas posso (e faço sempre) efectuar o exercício de ouvir a voz de António Lobo Antunes. É fácil para mim ouvir a voz dele. A qualidade da escrita, o timbre da voz são eternos. E obrigado pela lição de vida."


Tem uma voz linda, de facto!

A Matemática e o uso de máquina calculadora

Pergunta do Fórum TSF de hoje:

"No dia em que termina a discussão pública sobre as alterações ao programa de Matemática, vamos debater uma proposta que está a dividir professores e especialistas. Em causa está o facto de se incentivar o uso de máquina de calcular logo no primeiro ciclo. Há quem argumente que isto facilita a compreensão das crianças… há quem alerte que o uso indiscriminado das calculadoras faz perder a destreza do cálculo. No Fórum TSF queremos ouvir a sua opinião: as crianças devem ou não usar as máquinas de calcular logo nos primeiros anos do Ensino Básico?"

Minha opinião?
Não!

sábado, setembro 29, 2007

E eu amo-o!

“Bastou um dia para lhe mudar a vida. Em Março deste ano, António Lobo Antunes, 65 anos, entrou no Hospital de Santa Maria com o manuscrito em que trabalhava debaixo do braço. E dali já não saiu. A notícia, brutal, de que tinha um cancro, chegaria pouco depois. (...) Agora, seis meses passados, o escritor lança O Meu Nome É Legião (...).”


Ontem, já não saí da Fnac sem um exemplar.
Hoje, aqui vos deixo alguns excertos da entrevista desta semana, na Visão.

(Não deixem de a comprar, porque vale a pena tê-la na íntegra!)


“Quando a mão está feliz, os livros parecem-me sempre ditados.”

“O livro refere-se a um bairro em concreto, embora eu nunca lá tenha estado. Sempre me impressionou o facto de aqueles miúdos não terem raízes de espécie alguma. (...) E, no entanto, há neles uma sede de ternura, um desejo de amor absolutamente inextinguível. (...) O Meu Nome É Legião era por isso um livro de amor. De amor por uma geração, por uma classe social sozinha e abandonada, por um grupo de pessoas desesperadamente à procura de uma razão de existir.”
“Estão de tal maneira abandonados que matar pessoas é a única maneira que têm de pedir colo.”

“Aquilo não é sequer um subúrbio. (...) Aquilo é muito pior do que isso. Aquilo é o inferno. Aquelas pessoas vivem num inferno onde eu nunca entrei.”

“Não sei se os leitores entenderão que o livro está a transbordar de amor. Custou-me muito que aquelas personagens morressem. (...) Sempre me comoveu ver o desamparo em que as pessoas vivem. (...) Vivemos num certo desamparo, numa certa desprotecção.”

“Agora, de três em três meses, recebo um prémio. (...) É muito agradável recebê-los, mas um prémio nada tem a ver com a literatura, na medida em que não melhora nem piora os livros.”
“Sabe, este foi um ano muito duro para mim. Para além de ter recebido constantes lições de dignidade e de coragem por parte de pessoas anónimas, aprendi a ter ainda mais respeito e admiração pelos portugueses. Compreendi porque é que fomos nós a ir naqueles barquinhos de 14 metros sem quilha, porque é que atravessámos o Atlântico, porque é que fizemos o que fizemos. E fiquei muito orgulhoso quando percebi que o povo ainda é o mesmo. Fez-me lembrar aqueles versos de Sophia: «Esta gente cujo rosto/ Às vezes luminoso/ E outras vezes tosco/ Ora me lembra escravos/ Ora me lembra reis».”
“Aprendi a admirar as pessoas do meu País. E a respeitá-las ainda mais. E a amá-las ainda mais. E a gostar cada vez mais delas. A partir daí, tudo o resto se tornou relativo. (...) O que me interessa, neste momento, é poder ter tempo para escrever, viver o suficiente para conseguir acabar o meu trabalho sem decepcionar os que acreditam em mim.”

“Ser pedreiro, médico ou outra coisa qualquer também dá muito trabalho. E ser doente, ser doente dá muito trabalho.”

“O que posso dizer é que eu e todos os outros doentes só recebemos atenções. Dos médicos e dos enfermeiros, mas também das pessoas mais modestas que lá trabalham. Se dizem que tratam mal os doentes nos hospitais, a minha experiência foi justamente a contrária. Sempre vi os doentes serem tratados com a maior dignidade.”

“Tudo isto me fez ter saudades da Medicina. Pela primeira vez. E, nos últimos tempos, tenho tido saudades.”

“Sofri muito e, ao mesmo tempo, toda esta experiência também me enriqueceu. Sai-se disto com mais amor pela vida e com a sensação de que é uma honra estar-se vivo.”

“É claro que tomei consciência da minha finitude, porque todos vivemos em função de eternidades.”

“Para quem souber ler, exponho-me muito mais nos livros. (...) Quando me fala em serenidade, é evidente que estou muito mais sereno, muito mais seguro do valor do meu trabalho.”
“A seguir à operação, nem sequer escrevia. Estava sentado numa cadeira, sem ler, sem fazer nada, a olhar para a parede. Estive quase dois meses assim. Não tinha nada dentro.”

“E, como nunca tinha feito uma interrupção, só me perguntava: será que sou capaz de retomar o livro? Depois, devagar, comecei a aproximar-me dele, sem lhe tocar, sem lhe tocar mesmo. (...) Acho que agora estou a escrever como nunca escrevi.”

“Já não minto. Já não componho o perfil. Estou aqui diante de vós, nu e desfigurado. Porque a nudez desfigura sempre. Agora, jogo com as cartas abertas.”

“Ninguém escreve assim. Não tenho a menor dúvida de que não há, na língua portuguesa, quem me chegue aos calcanhares. E nada disto tem a ver com vaidade porque, como sabe, sou modesto e humilde. A doença trouxe-me isso.”

“Por mais que racionalmente pensemos que o cancro se cura, associamo-lo à morte. (...) Não é ver a morte à minha frente, é vê-la dentro de mim. Já está cá, é uma parte de nós. Não requer coragem, apenas dignidade e elegância.”

“Compreendi a frase de Hemingway, quando quiseram saber o que é que ele achava da morte e a resposta foi: «Outra puta». Porque a morte é sempre uma puta e, a uma puta, não se pode dar confiança. (...) Não tenho que viver com um filho da puta. Eu não vivo com um cabrão, quero destruí-lo, não quero viver com ele.”
“De qualquer maneira, sei que, mais tarde ou mais cedo, a puta virá. Só espero ter tempo para acabar o meu trabalho.”

“Lembro-me sobretudo de uma rapariga de 20 anos que usava uma cabeleira postiça. Percebia-se logo que a cabeleira era postiça, mas ela usava-a com tanta dignidade que era como se fosse uma coroa. Uma coroa de rainha. E era, de facto, uma rainha que ali estava.”

“Porque, ao lado, vi pessoas que estavam muito piores do que eu. Pessoas sem esperança, à espera da morte. As minhas hipóteses eram grandes e, por isso, às vezes, sinto-me culpado. Mas é verdade que me sinto mais livre, sinto-me muito mais livre. Livre para escrever, livre para viver, livre para amar. (...) Eu agora, digo, eu agora digo. E isso foi uma conquista porque, de repente, tornou-se evidente que esta é a única maneira de viver. (...) O meu avô morreu e, ainda hoje, sinto remorsos por não lhe ter dito que gostava muito dele.”

“Não sei se morremos assim. Não sei se não ficamos cá. Não sei se Camões está morto. Mas isso não tem importância, eu não sou importante, os livros é que são importantes.”

“Acho graça à maneira como, nas entrevistas, as pessoas se tentam compor, se penteiam para arranjar o cabelo, ajeitam a gravata, retocam a maquilhagem. Para quê? Para seduzir? Para tentar que gostem delas? Para fazer boa figura perante os leitores? Tudo isso já me é completamente indiferente. É uma conquista recente, ganha com tudo aquilo por que passei. Estar aqui à sua frente é a única maneira de estar.”

sexta-feira, setembro 28, 2007

Tá feito!

Ontem, lá me inscrevi na Pós-Graduação em Direito da Comunicação.
Entretanto, vou também voltar a estudar inglês, regressar à minha Dança Jazz e continuar no ginásio, com as aulas de Corpo e Mente.

Acho que não me esqueci de nada...

Como já tinha dito, só espero dar conta do recado!

quinta-feira, setembro 27, 2007

palavras em néctar

"a vida é uma maçã

(...)
guardo o corpo das árvores que abracei
nos momentos em que apenas a sombra
era a única companheira da minha sede
(...)
despeço-me daquele rochedo à beira mar
onde os ruídos dos meus pensamentos
me impedem de ouvir a melodias do mar
(...)
a vida é uma maçã vermelha e perfumada
apetitosa e suculenta cheia de sementes
ou a mordiscamos receosos do pecado
que logo ao nascer habilidosamente nos impingiram
ou trincamos como glutões irados de fome
podemos trincá-la suavemente,
saboreando cada pedacinho
se o fizermos saberemos que em cada pedacinho
há um sabor diferente, alguns toques mais amargos
mas é assim mesmo, a vida é mesmo uma maçã
(...)"

AP

My lovely mirror

quarta-feira, setembro 26, 2007

Ainda no livro de Inês Pedrosa...

"Encontrámo-nos demasiado cedo numa civilização descrente de encontros definitivos."

Medo de amar

"(...)
ter o amor rejeitado,

nem se fala,
é fractura exposta,
definhamos em público,
encolhemos a alma,
quase desejamos uma violência qualquer vinda
da rua para esquecermos dessa violência vinda do tempo gasto e vivido,
esse assalto em que nos roubaram tudo,
o amor e o que vem com ele,
confiança
e estabilidade.
Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz, o romantismo
perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar dentro do carro.
Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia.
Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim.
Um novo amor? Nem pensar.
Medo, respondemos.


Que corajosos somos nós,

que apesar de um medo tão justificado,
amamos outra vez e todas as vezes
que o amor nos chama, fingindo um pouco de resistência mas sabendo que para sempre é impossível recusá-lo."


Martha Medeiros

terça-feira, setembro 25, 2007

Se...

"Se és capaz de conservar o teu bom senso e a calma,
Quando os outros os perdem, e te acusam disso,

Se és capaz de confiar em ti, quando de ti duvidam
E, no entanto, perdoares que duvidem,

Se és capaz de esperar, sem perderes a esperança
E não caluniares os que te caluniam,

Se és capaz de sonhar, sem que o sonho te domine,
E pensar, sem reduzir o pensamento a vício,

Se és capaz de enfrentar o Triunfo e o Desastre,
Sem fazer distinção entre estes dois impostores,

Se és capaz de ouvir a verdade que disseste,
Transformada por canalhas em armadilhas aos tolos,

Se és capaz de ver destruído o ideal da vida inteira
E construi-lo outra vez com ferramentas gastas,

Se és capaz de arriscar todos os teus haveres
Num lance corajoso, alheio ao resultado,
E perder e começar de novo o teu caminho,
Sem que ouça um suspiro quem seguir ao teu lado,

Se és capaz de forçar os teus músculos e nervos
E fazê-los servir se já quase não servem,
Sustentando-te a ti, quando nada em ti resta,
A não ser a vontade que diz: Enfrenta!

Se és capaz de falar ao povo e ficar digno
Ou de passear com reis conservando-te o mesmo,

Se não pode abalar-te amigo ou inimigo
E não sofrem decepção os que contam contigo,

Se podes preencher todo minuto que passa
Com sessenta segundos de tarefa acertada,

Se assim fores, meu filho, a Terra será tua,
Será teu tudo que nela existe

E não receies que te o tomem,

Mas (ainda melhor que tudo isto)
Se assim fores, serás um HOMEM."

Rudyard Kipling

Há-de haver...

"Hei-de estar por aqui
Hei-de sempre abraçar-te,
Agarrar-me a ti"

sábado, setembro 22, 2007

Nestes dois dias...

... estive na alta de Coimbra, mais propriamente entre a Faculdade de Medicina e o Instituto de Medicina Legal, onde frequentei o 1º Curso de Introdução às Ciências Médico-Legais e Forenses para Jornalistas.

Adorei!
Venham mais iniciativas assim.

quinta-feira, setembro 20, 2007

Satisfaction

Lyrics

"Agarra-me esta noite

Onde estiveres, eu estou
Onde tu fores, eu vou
Se tu quiseres assim
Meu corpo é o teu mundo
E um beijo um segundo
És parte de mim

Para onde olhares, eu corro
Se me faltares, eu morro
Quando vieres, distante
Soltam-se amarras
E tocam guitarras
Por ti, como dantes

Agarra-me esta noite
Sente o tempo que eu perdi
Agarra-me esta noite
Que amanhã não estou aqui"


"Beijo

(...)

Quero que saibas
Que sem ti não há lua,
Nem as árvores crescem,
Ou as mãos amanhecem
Entre as sombras da rua.

Leva os meus braços,
Esconde-te em mim,
Que a dor do silêncio
Contigo eu venço
Num beijo assim.

Não posso deixar de sentir-te
Na memória das mãos,
Vou ficar a despir-te,
E talvez ouça rir-te
Nas paredes, no chão.
Não posso mentir que as lágrimas
São saudades do beijo,
Vou ficar mais despido
Que um corpo vencido,
Perdido em desejo."


"Deixas em mim tanto de ti

Não sei quanto tempo fomos,
Nem sei se te trago em mim,
Sei do vento onde te invento, assim.
Não sei se é luz da manhã,
Nem sei o que resta em nós,
Sei das ruas que corremos sós,
Porque tu,

Deixas em mim
Tanto de ti,
Matam-me os dias,
As mãos vazias de ti.

(...)"


"Outra noite perfeita

Põe o teu corpo perto de mim,
Deixa que o chão nos engula a sombra,
Não pode haver engano num momento assim,
E de repente a tua voz na minha:

Noite perfeita,
Tu és perfeita.
Noite perfeita,
Tu és perfeita.
(Sempre te soube perfeita).

(...)"

P. Abrunhosa

terça-feira, setembro 18, 2007

Dasse!

"Assassínio em Coimbra

Vítima e suspeito de homicídio passional são estudantes de Engenharia Civil

Uma jovem assassinada esta terça-feira em Coimbra e o suspeito do homicídio são ambos alunos de Engenharia Civil e o crime terá sido motivado por razões passionais, disse uma fonte da Polícia Judiciária (PJ)."


O mais curioso é que tinha estado a ver um programa da Oprah onde se falou de crimes violentos e de vítimas (indirectas) que mais tarde quiseram encontrar-se com os assassinos - "for a healing process" -, no caso dos respectivos pais... uma das estórias era precisamente a de um crime passional.

segunda-feira, setembro 17, 2007

mudança

Como?

"ANF e CGD lançam cartão de crédito para compra de medicamentos
A Associação Nacional das Farmácias (ANF) vai lançar um novo cartão de crédito em parceria com a CGD, que permite aos clientes com conta aberta naquele banco comprar medicamentos a crédito. Outra hipótese passa por um cartão de fidelização, que converta os gastos em pontos posteriormente aproveitados na aquisição de produtos gratuitos ou com desconto."



Mas até onde é que isto vai?!

Valeu


Talvez por me terem dito que era "fraquito" e, portanto, não ir com grandes expectativas (apesar de o querer ver mesmo assim, pelo elenco)... até gostei!

domingo, setembro 16, 2007

A ver se o começo a ler

"Escolho meus amigos nao pela pele ou outro arquetipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. (...) Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. (...)"

Oscar Wilde

quinta-feira, setembro 13, 2007

Serenidade

Chuva de Verão

"Canta e dança
Todos os dias há razão p'ra celebrar
Bate no peito
Um coração com força de acreditar"


(Mi ma bô)

Ricardo Reis

"Para ser grande, sê inteiro

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive"

Sublime

"o contorno dos meus olhos aceitando o mar dos teus"

Elipse

segunda-feira, setembro 10, 2007

Mas p'ra já...

... 3 dias de paz, só meus!

Este ano promete!

Estava com receio de não dar conta do recado, mas já me decidi e vou mesmo fazer tudo aquilo a que me auto-propus. Não há-de ser nada! :)

sexta-feira, setembro 07, 2007

quinta-feira, setembro 06, 2007

So cold!

A digerir a bofetada de ontem...
Com uma angústia que não deixa o peito explodir.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Loucura

"Somos únicos, únicos em dois,
Alma e alma, pele e pele.
Passamos pela essência do prazer.
Sinto o teu calor, o sabor da tua pele, sei de cor os teus contornos, tenho cravado em mim o teu nome neste momento.
Conhecemos-nos sem palavras.
Nossos corpos combinam, completam-se.
Somos tudo, mas não somos nada.
Somos impuros, insanos, inconsequentes, apaixonados..."



(algures, num perfil do hi5)

Eurovision Dance Contest 2007 - PORTUGAL - Tango Freestyle

Eurovision Dance Contest 2007 - PORTUGAL - Jive

à distância...

"Percorre-me um arrepio, algo familiar... o teu cheiro, pareceu-me juro...
Fico parado, com o coração aos pulos, (...).
Volto para o meu lugar, para a minha companhia. Não consigo dizer mais nada de jeito o resto da noite. Mil e uma lembranças percorrem-me os pensamentos. Relembro tanta coisa... tenho saudades. Olho à volta e nada faz sentido. (...)"