quarta-feira, maio 02, 2007

Mais o admiro!

"Crónica do hospital

Não quero aqui ninguém. Quero ficar sozinho a medir isto, a minha doença, a minha mortalidade, o meu espanto. (...)
Não imaginava que fosse assim, tão doloroso e, ao mesmo tempo, tão pouco digno como a velhice e a decadência. Tão reles. O olhar de pena dos outros, palavras de esperança em que não têm fé, dúzias de histórias de criaturas que passaram por isso que tu tens agora e estão óptimas. (...)
(...) Suceda o que suceder, uma coisa tenho por certa: isto alterou, de cabo a rabo, a minha vida. Ignoro em que sentido, ignoro como.
Sei que alterou. (...) O que farei daqui para a frente, se existir daqui para a frente? (...)
(...) De uma forma ou outra a gente luta sempre. Momentos de quase esperança, momentos de desânimo e momentos de desânimo maior, como se me obrigassem a escolher entre o que não vale nada e o que vale ainda menos. (...)
e sem que eles sonhassem
(sonhava eu)
o cancro
ratando, ratando, injusto, teimoso, cego. Mói e mata. Mata. Mata. Mata. Mata. Levou-me tantas das pessoas que mais queria. E eu, já agora, quero-me? Sim. Não. Sim. Não - sim. Por enquanto meço o meu espanto (...)".

António Lobo Antunes

(in pg. 22 da Visão de 12 de Abril de 2007)



As melhoras!

6 comentários:

ivamarle disse...

até agora só consegui ler dele, as crónicas, tanto em livro, como na revista e adoro a maneira como ele descreve os sentimentos mais ténues ou mais intensos, conforme o caso...

Frédéric disse...

(silêncio)

Little Miss Starlight disse...

Obrigado por teres colocado aqui parte da crónica, pois na altura em que saiu não lhe consegui chegar... Por acaso não a tens por completo...?**

Rafeiro Perfumado disse...

Subscrevo... este escreve bem, ao contrário do outro que ganhou o Nobel.

peter_pina disse...

ja li os 3 livros de cronicas deste senhor...e MAIS O ADMIRO! XIM

rps disse...

Há largos anos, tentei ler "Os cus de judas". Não consegui. Nunca mais tentei. Leio-o nas crónicas. Com gosto. Essa... O que dizer?... Não há palavras...