sábado, janeiro 28, 2006

Excerto

"Ao longo da sua vida, uma árvore pode ser atacada por um número muito grande de tempestades. Podem cair-lhe em cima temporais, trombas de água, tempestades de neve, podem bater-lhe, empurrá-la de um lado ao outro sem nada suceder. Quando o sol regressa, está sempre ali, no meio do campo, com os seus ramos majestosos. Só não pode resistir ao fogo, as chamas correm velozes e ela não tem pernas para se mexer. Em volta tudo crepita, é lambida e engolida, qualquer pequena moita transforma-se numa tocha. Por fim, o fogo chega ao tronco, acaricia a casca e sobe até às ramagens, queima os insectos e os ninhos, seca a linfa, inflama os ramos e as folhas. Foram precisos decénios para fazer surgir de uma semente aquela forma majestosa e, em poucas horas, tudo morre. A grande fogueira brilha na noite. A toda a volta, há calor e luz e, lá em cima, depois da luz, surge o fumo branco. Aquela coluna de nuvens pode ver-se a quilómetros de distância. Na manhã seguinte, no meio da clareira, só fica um espigão negro.
As chamas tinham voltado à minha vida. (...) No momento em que comecei a sentir calor, já era demasiado tarde, a fogueira era eu próprio. Fosse para onde fosse, levava-a comigo."

A Alma do Mundo, Susanna Tamaro

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