segunda-feira, janeiro 09, 2006

O meu orgulho (2)

Porque este tem de ser colocado na íntegra.


"De como me tornei benfiquista

Nasci no Porto há 52 anos, e aí vivi até aos 18, altura em que a música me trouxe, para ficar, até Lisboa.
Desde muito novo habituei-me a acompanhar o meu pai ao velho Estádio das Antas, onde, como a esmagadora maioria dos Portuenses, torcia e vibrava com as vitórias do clube da minha cidade, que, sendo ao tempo poucas fora de portas, eram nos jogos em casa uma quase certeza.
Teria eu una 13, 14 anos, já o S. L. B. era bi-campeão europeu, chegou o dia de mais um Porto-Benfica e como sempre rumámos ao estádio com a fé inabalável de que nas Antas mandávamos nós e o grande Benfica regressaria a Lisboa mais pequeno depois daquela tarde de futebol.
Desportivamente, assim foi. O Porto venceu o jogo e embora o campeonato estivesse perdido, pelo menos uma vez esse prazer já ninguém nos tirava. Como habitualmente, ficámos a saborear o momento por uns bons minutos na bancada central, enquanto o estádio se esvaziava e o regresso a casa se tornava então mais fácil.
Foi já no exterior do mesmo que presenciei a cena que mudou o meu adolescente amor clubista e me formou definitivamente a consciência contra a injustiça da força bruta.
Três adeptos do Benfica, pai e dois filhos, equipados a rigor, festejavam, apesar da derrota, a alegria de pertencer ao maior clube português, entoando cânticos de louvor aos campeões europeus que, poucos minutos antes, tinham, uma vez mais, perdido um jogo nas Antas.
De repente, numa questão de segundos, vi-os serem violentamente agredidos por um grupo de adeptos do Porto, deixando-os a sangrar, sem que os muitos outros que por eles passavam fizessem alguma coisa para o evitar, antes pelo contrário, incitanto o grupo de agressores a perpretar o seu acto com um ódio que ainda hoje me perturba saber ser possível, pela irracionalidade que o futebol desperta em muitos dos seus adeptos.
Dirigimo-nos, o meu pai e eu, até aos três benfiquistas, certificámo-nos de que os estragos eram mais ao nível da alma do que do corpo, apesar do sangue e dos hematomas visíveis, e, protegendo-os com os nossos cachecóis azuis e brancos, trouxemo-los até ao velho Taunus do meu pai, no qual lhes demos boleia até longe do estádio, percebendo que felizmente não necessitavam de quaisquer cuidados extras.
Foi então que o pai dos dois rapazes, quando nos despedíamos, sem dizer uma palavra, despiu a camisola vermelha que vestia sob um velho casaco e, depois de pedir licença ao meu pai, me a ofereceu, dizendo-me 'um rapaz como tu merece uma camisola do Benfica'.
Confesso que na alma fiquei tão confuso com os meus próprios sentimentos que deixei de ir ao futebol durante uns anos, até porque poucos meses depois nasceu o 'Pop Five Music Incorporated' e com ele a minha vida de músico ao tempo ainda amador, que me ocupava a maioria dos fins-de-semana.
Tinha dezoito anos quando voltei a ter vontade de entrar num estádio de futebol. Estávamos em 1969, e levei vestida a minha camisola do Benfica quando pela primeira vez me sentei no Estádio da Luz. Senti nesse dia que seria aquela, para sempre, a minha nova casa."
Tozé Brito

1 comentário:

Anónimo disse...

Perante este post, só me ocorre dizer uma coisa...


Bibó Porto!!!!!!

;)

Cristiana